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Relato da Mesa: Espaços, intercâmbios e cooperação no âmbito da arte

A mesa Espaços, intercâmbios e Cooperação no âmbito da arte foi composta pelos palestrantes James Wallbank (Access-Space Lab, Inglaterra), Pep Dardanya (Can Xalant, Espanha); Daniela Bousso, Roberto Winter e Luiza Proença apresentaram cases de exposições. A mesa contou com a mediação de Giselle Beiguelman (artista e professora do curso de Comunicação e Semiótica da PUC-SP) e com a participação de Marcos Moraes (coordenador do Curso de Artes Plásticas da FAAP) como debatedor. A mesa enfocou a criações de plataformas para o desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares, geração de condições ideais para possibilitar a pesquisa e a criação de ambientes físicos e/ou virtuais de processos colaborativos, como mídia-labs e residências.James Wallbank abre a mesa apresentando o projeto que coordena, o Acess-Space, laboratório de mídia digital localizado em Sheffield, norte da Inglaterra. O desenvolvimento desse espaço parte do diagnóstico de uma cidade pós-industrial, devastada pelo desemprego em massa devido ao declínio da indústria pesada (carvão e aço) e que hoje luta para transformar-se em um centro de economia criativa.Como um jovem artista, Wallbank passou a se interessar por sucatas e resíduos. Em um determinado momento depois de ter encontrar muito material tecnológico descartado, chegou a conclusão de que uma cidade que tentava se envolver com tecnologia e com a economia da informação, estava jogando fora seus equipamentos. Para o palestrante, a definição de lixo não está ligada ao objeto, mas sim à incapacidade das pessoas de se relacionarem com este objeto de maneira criativa. E afirma que a crise ecológica não está relacionada ao excesso de material, mas sim ao déficit de criatividade.O Acess-Space surge com o objetivo de fazer a comunidade envolver-se com criatividade digital, com a reciclagem de computadores, a aprendizagem colaborativa, com o software livre e com a construção de um senso de comunidade. Nas palavras de Wallbank: —œestou muito mais interessado no processo de criatividade, nomeadamente na sua capacidade de capacitar, que em obras físicas para meu próprio bem.—Wallbank exibe algumas obras que foram realizadas no Acess-Space de maneira colaborativa. E sugere que o ciclo de atividades que envolve a comunidade dentro do Acess-Space pode ser uma obra de arte em si. Enfatiza a importância de mudar a consciência da arte em termos de objetos, portanto a relação com a realização e construção de resultados (como objetos ou instalações) importa enquanto prática e processo. Afirma que o Acess-Space não deve ser entendido como um serviço, mas sim como uma pergunta que é feita as pessoas que frenquentam o laboratório: —œComo a partir da convivência nesse espaço você pode transformar a sua vida? Aumentando sua rede de contatos, abrindo uma empresa?— É um exercício que a partir de um ciclo de atividades criativas, pretende capacitar pessoas a tornarem-se produtoras de informação, e não consumidoras.Espaços de ContágioPep Dardanyà aborda o tema Espaços de Contágio enfocando as práticas artísticas que se manifestam em Can Xalant, Centro de Creación y Pensamiento Contemporâneo, que desenvolve-se como um laboratório de experiências inovadoras, não para a produção de objetos, mas como um espaço para pesquisa que lida também (ou até?) com a possibilidade do fracasso.O laboratório fornece bases para que projetos artísticos possam ser desenvolvidos, com infra-estrutura que vai desde de espaços de ilha de edição até o desenvolvimento de atividades complementares como workshops, etc. Os processos começam pela pesquisa, passando pela fundamentação e depois à difusão da produção. A intenção é construir um espaço fora dos espaços tradicionais e que seja favorável ao intercâmbio de experiências e de artistas que venham acrescentar ao contexto artístico catalão.Segundo Pep Dardanyà, a idéia de que o papel do artista mudou é fundamental para entender os conceitos de gerência dos projetos. Não se define mais o artista por alguma técnica, mas sim por um compêndio de atividades, práticas e expectativas em relação ao seu trabalho, que pode ser construído usando muitas metodologias. Torna-se portanto fundamental também lidar com a idéia de especificidade, quer dizer, cada artista e cada projeto exige uma metodologia, um tipo de hibridização, um tipo de intercâmbio com profissionais de outras áreas—¦ Com este argumento, o palestrante retoma a temática da perda da autoria, de inter(ou trans?)disciplinaridade, da colaboração e chega a idéia de contágio.Dardanyà levanta questões que surgem a partir dessa situação: Que diferença gera esse novo contexto de produção, essa nova característica? Qual a diferença de um centro de exposição e um centro de produção? E comenta que um espaço expositivo simplesmente incorpora conceitos comerciais e num espaço de produção como a Can Xalant é feita uma negociação dos interesses primários da produção que o artista quer desenvolver. CasesRoberto Winter e Luiza Proença apresentam a curadoria Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Este projeto foi selecionado pelo edital Temporada de Projetos e está atualmente em exposição no Paço das Artes. A proposta curatorial reflete sobre a pesquisa, a discussão, a apresentação e a mediação de arte contemporânea por meio de uma reflexão crítica sobre a prática de elaboração de projetos.Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, além de expor uma grande parte dos projetos (selecionados ou não) pelo edital, propõe encontros e oficinas, que geram uma discussão pública e aberta sobre a produção de projetos. Além disso, articula ferramentas da internet ao redor de um site buscando criar comunicação entre os envolvidos e relatar o próprio processo de desenvolvimento da exposição.Luiza Proenza afirma que o que há de interessante a se pensar numa exposição de projetos é o quanto que eles podem conter uma parte da obra que nunca poderá se concretizar (e as vezes até substituí-la) e também fornecer acesso a essa parte da produção das obras que é geralmente revelada apenas ao júri.Daniela Bousso relata a exposição Ocupação, realizada em 2005, momento em que o Paço das Artes estava prestes a fechar as portas por falta de verba. Ocupação teve entre seus objetivos a abertura do espaço à ocupação livre de um grupo de artistas que não foi selecionado por nenhum tipo de júri, mas que se apresentou espontaneamente à participação com o compromisso de permanecer por quatro horas diárias no espaço expositivo, durante doze dias, para que pudesse estabelecer trocas com o público.Nas palavras de Daniela Bousso, —œo projeto surge como uma maneira de não se manter calado diante da total ausência de políticas públicas culturais para o exercício da arte contemporânea, e afim de criar oportunidade de encontros e trocas entre os interessados na continuidade de uma instituição como o Paço das Artes—. Por fim, o projeto ganha o prêmio da APCA como melhor iniciativa cultural de 2005.DebateO debate é aberto com Marcos Moraes que questiona sobre os processos de formação na Acess-Space e sobre a definição do Can Xalant enquanto espaço de —œprodução— e não de —œcriação—.Segundo Pep Dardanyà, as questões discutidas dentro da proposta da residência Can Xalant fazem significar que ali dentro, as relações do campo da arte vão para muito além da produção/comercialização, e rompem o mito de que a arte é um sistema autônomo. Os projetos dialogam com a idéia de que o sistema da arte é interdependente de outras produções e de outros processos de conhecimento produzidos através de outros conceitos profissionais.Quanto ao Acess-Space, parece-me que o espaço tenta cumprir um papel de formação movido por um desejo de transformação da qualidade de vida de uma comunidade através do fazer artístico. Dentro desta perspectiva, fala-se de gerar prazer e sentimento de pertencimento de forma afetiva, que tem a ver com um lifestyle e com um sentimento utópico de que a arte tem o poder de reformular conceitos e mudar o mundo.

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