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Performa Paço – Ações Extremas

O projeto Performa Paço, concebido pela diretora técnica da instituição Priscila Arantes, terá sua primeira edição com curadoria de Lucio Agra. Na entrevista a seguir, o curador fala sobre a escolha do tema Ações Extremas e contextualiza seu projeto dentro da historiografia e da contemporaneidade da performance.
Paço das Artes: Segundo seu ponto de vista, qual o papel da performance em face das outras manifestações artísticas contemporâneas?Lucio Agra: A performance está no centro do que se produz no contemporâneo, quer se tome este termo no seu sentido mais estrito, de periodização, quer em uma perspectiva mais crítica e investigativa. No primeiro caso, a performance está ao lado do surgimento de várias novas linguagens nos anos 1960 e 1970. Nas artes visuais, emerge conjuntamente com outros gêneros, como a instalação, acumulação, assemblages etc. Ao mesmo tempo, é empregada em teorias e práticas teatrais e na música pop. Do ponto de vista filosófico, pensadores do hoje, como o muito comentado italiano Giorgio Agamben, questionam esta noção de contemporâneo e afirmam que talvez mais atual é aquele que se distancia de seu tempo. Mas, nesse aspecto, a performance, uma das linguagens artísticas que logrou traduzir com êxito certo espírito de invenção das vanguardas para uma época em que estas desapareceram, situa-se como uma forma artística no trânsito entre tempos e espaços.Paço das Artes: A historiografia da arte atribui ao artista Flavio de Carvalho o pioneirismo no aparecimento da performance no Brasil. Como você vê a influência desse artista na arte brasileira? Teria ele influenciado a geração 60 e 70? Lucio Agra: Flavio de Carvalho é o godfather da performance brasileira. Ele fez primeiro até mesmo o happening antes dos europeus e americanos, conforme bem afirma a dedicatória de Haroldo de Campos no lançamento da primeira edição da tradução de poemas de Maiakovski, com Boris Schnaiderman: “a Flavio de Carvalho, inventor do happening”. A imagem do traje de verão, do passeio do homem já nos seus sessenta a andar pelas ruas de São Paulo usando um saiote, foi evocada por alguns artistas das décadas seguintes. Mas Flávio não chegou a ver a massa comer seus biscoitos finos (como foi o caso também de seu amigo Oswald de Andrade, que o considerava o “antropófago ideal”). Flávio de Carvalho é o fundamento da arte da performance no Brasil.Paço das Artes: Quais os principais elementos e questões da performance presentes no seu trabalho como artista?Lucio Agra: Meu trabalho absorveu muitas referências da obra do artista alemão Kurt Schwitters, ele mesmo também um pioneiro da performance. O uso da palavra, da poesia como texto performático, é uma de suas características com a qual trabalhei diversas vezes. Do convívio com Renato Cohen me vieram as questões relativas à persona (etimologicamente “soar através”), a máscara, os elementos da autobiografia embaralhados. Também fui muito marcado pela experiência da música (o ato de tocar ao vivo) e pelo rio de fogo que foi a poesia de invenção brasileira.Paço das Artes: Para essa primeira edição do Performa Paço, você escolheu o tema Ações Extremas. Gostaríamos que você falasse um pouco sobre o recorte curatorial e sobre a escolha dos artistas.Lucio Agra: Para essa primeira edição achei que seria bom mexer com um dos aspectos mais fortes da performance, a vivência de liminaridade, como a chamou o antropólogo Vitor Turner, através de ações que exploram o extremo – da inteligibilidade, da resistência do corpo, da ousadia, dos sentidos. Experiência de extremos, a performance é uma espécie de vivência extraordinária da qual o público é cúmplice e muitas vezes participante. Questões como essas orientaram minhas escolhas. Todos os artistas que participam têm investigações em torno desta experimentação com as fronteiras da sensorialidade e da intelecção.Paço das Artes: Essa é a primeira edição desse projeto totalmente dedicado à performance no Paço das Artes. Como você pensa a performance dentro de um espaço institucional?Lucio Agra: A performance é hoje e cada vez mais algo que se institucionalizou. Em alguns países ela já mobiliza grandes orçamentos no campo da arte. Ao mesmo tempo permanece sendo essa “legião estrangeira das artes”, como a queria Cohen, sendo sempre um perigo e um distúrbio no mercado da arte. É mais difícil apreendê-la em um único fazer, o que fecha a possibilidade de sua tradução como produto aristocrático e abre, por outro lado, uma imponderabilidade que atrai o novo. Mesmo o artista de maior prestígio hoje, na performance, como é o caso de Marina Abramovic, ainda é referência para outros que, não estando em grandes circuitos, alimentam-se e avançam a partir da vereda que ela abriu. Parece ocorrer com a performance aquilo que Hélio Oiticica comentou a respeito do par invenção/diluição, considerando a primeira imune à segunda. Mas, para haver real invenção, é preciso que haja imprevisibilidade, coisa que a performance tem mantido como um dos seus princípios fundamentais.

O Paço das Artes lança, neste semestre, a segunda série de vídeos com registros e entrevistas com curadores e artistas do Performa Paço. Confira o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=TZh3hbpGr8YConcebido por Priscila Arantes, diretora técnica da instituição, e com curadoria de Lucio Agra, a primeira edição do Performa Paço teve como tema Ações Extremas e apresentou performances que exploraram os limites do corpo humano. Realizado nos dias 10 e 11 de junho, o evento trouxe 11 apresentações de artistas brasileiros e venezuelanos, intercaladas com debates junto ao público.

Informações por e-mail pacodasartes@pacodasartes.org.br ou pelo telefone (11) 3814-4832

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