Visitação
21/01/2008 a 13/04/2008
A artista apresenta a instalação Rizófores, um recorte da pesquisa que vem realizando desde 2003, quando começou a construir suas “esculturas moles”, peças elaboradas com contas coloridas e cordas espiraladas.
Faz sol. Calor. A umidade do ar é alta. O céu está claro. As condições ambientais são plenas para que as raÃzes se desenvolvam horizontalmente, nas regiões de transição mangue-mata. Rizóforos partem dos troncos e dos ramos das árvores, formando arcos que atingem o solo alagado. Nenúfares, liquens, algas são colonizados na maré enchente. Glândulas se desenvolvem perpendicularmente à superfÃcie. Ramificações verticais atingem o ambiente aéreo, expondo-se como lanças que se projetam para o alto, em sustentação apenas relativa. Faz sol, faz calor. Ar-condicionado da galeria no nÃvel máximo. Carretéis moles de sisal se enlaçam a tubos de cordas sintéticas coloridas. Formas espiraladas, confeccionadas com cordões e contas de colar, engordam, emagrecem, deslocam-se, assimilando outras formas, avançando sobre as paredes. Elas se arrastam, se alongam, bifurcam, ramificam. Das mesmas condições que se fazem propÃcias à s inflorescências nos mangues brota a escultura de Maria Nepomuceno. Em franca expansão no espaço, esses objetos são animados por uma energia própria da vida orgânica das matas úmidas e dos corpos em processo de mutação. Embora seus jardins de objetos sem tÃtulos não reclamem vÃnculos diretos com referentes no mundo botânico ou real, Maria Nepomuceno se relaciona com os espaços externos à arte. A artista traz para o corpo de seu trabalho a matéria-prima das atividades dos estivadores dos portos, dos construtores de casas, dos tapeceiros, das artesãs dos mercados populares. Trabalha, como matéria de sua escultura, a imagem das argolas que, numa tradição cultural distante, modelam musculaturas dos corpos femininos. Dentro do espaço expositivo, as esculturas de Maria Nepomuceno produzem a mesma agitação dos sentidos provocada pelo objeto redondo, inflável e cor-de-rosa, que duas vezes ela atirou à s ruas para assistir à s pessoas se relacionarem com ele. Tal qual o objeto que desafia a previsibilidade de uma praia lotada ou de uma tarde de Carnaval, suas esculturas são objetos não identificados que estimulam no espectador a vontade de dar nomes a sensações fortes e acaloradas.