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Psicossomáticos

Visitação

02/01/2016 a 28/03/2016

Anaisa Franco reutiliza conceitos de psicologia como paranoia, ansiedade, vergonha e frustração para criar as esculturas eletrônicas de “Psicossomáticos”.

Entrevista com Anaisa Franco

Ananda Carvalho

A.N.: Os seus três trabalhos expostos na Temporada de Projetos —“ Confusion, On Shame e Externalizing Data —“ fazem parte de uma série chamada Psicossomáticos (que ao todo englobo sete obras). Sabe-se que a psicossomática é um termo da medicina que compreende efeitos sociais e psicológicos sobre processos orgânicos do corpo. Como os trabalhos ativam, ou melhor, ampliam a discussão sobre esta temática? A.F.: Os três trabalhos expostos foram criados através de prêmios de produção de projetos em laboratórios na Austrália, Espanha e Alemanha. O processo de produção de Confusion foi muito complexo: englobou 3D scan da minha própria cabeça, e de uma bola de plasma, modeladas e subtraídas, o resultado foi cortado a laser em fatias. Na interatividade, a bola de plasma foi transformada em um sensor que, ao ser tocado por uma pessoa, ativa diálogos usando Arduino mp3 shield e autofalantes. On Shame foi feito em colaboração com o músico e programador Scott Simon. A interatividade engloba um dome transparente que captura o rosto do público com uma câmera e o distorce mudando cores e ao mesmo tempo expressando diálogos e sons de vozes inconscientes. A peça Externalizing Data foi feita em colaboração com a banda Chickson Speed. A peça utiliza uma estrutura de madeira cortada a laser em forma de uma cabeça abstrata. Quando o usuário se aproxima da peça, ela gira e emana luzes coloridas e música. A.C.: De certa forma, as três obras desta exposição constituem-se figurativamente como cabeças, o que poderia indicar uma perspectiva de seleção que enfoca o pensamento. Entretanto, nessas produções, o pensar é ativado pelos sentidos, tanto do público como das máquinas. Inclusive, você compara sentidos e sensores…A.F.: A inspiração vem do desejo de criar interfaces que interligam o físico com o digital. Utilizo conceitos da psicologia e das ciências cognitivas. Meu trabalho engloba uma pesquisa prática, que implica um constante processo de experimentação com novos materiais e fabricação digital, para chegar em uma —œsituação afetiva—. Nos Psicossomáticos, eu tive a intenção de elaborar artisticamente uma relação sensível entre os sentidos humanos e criações tecnológicas sensoriais. Dentro desta investigação, estou questionando a possibilidade de inserir comportamentos, sentimentos e emoções dentro de máquinas esculturais expandidas, fazendo-as reativar tais emoções que se tornam visíveis ao público através do contato humano (presença, toque, olhar).A.C.: Nas fichas técnicas dos seus trabalhos, eles são classificados com diferentes termos: esculturas emocionais, eletrônicas, luminosas, interativas, reativas ou sensíveis. Por esse viés, como pensar as diferentes relações entre o eu e o outro ativada por suas obras: público X artista; máquina X pessoa; representação X escultura?A.F.: O objetivo é criar uma relação sensível entre máquina e humano, orgânico e artificial, proporcionando ao usuário reviver emoções, expandir sentidos e —œsexto-sentidos— provocados pelas obras. Assim, o espectador pode amplificar suas sensações no corpo, por meio de uma experiência com interfaces que simulam estes sentimentos, —œelevando— o momento da fruição. Nestas dinâmicas de interação, minha pesquisa baseia-se em perspectivas práticas e teóricas de estimulação e simulação perceptual.A.C.: Você constrói uma proposição dialógica entre a eletricidade (como materialização do pensamento) e a matéria (como simbologia do corpo). Ou seja, poderíamos dizer que o seu processo de criação envolve tanto a construção de metáforas com a reconstrução de elementos figurativos?A.F.: Como eu tenho uma formação de escultura e eu tenho uma mãe psicanalista, eu sempre fui interessada na questão de por que as coisas não podem ter uma psicologia própria; porque somente as pessoas podem pensar e não esculturas, e por que tudo não pode ter vida. Meu trabalho como artista envolve o produzir pensamentos, emoções e comportamentos para as esculturas, tirando elas da inércia. A eletricidade gera a vida, já que só nos movemos porque somos elétricos. No mundo digital, eu estou interessado na eletricidade e no que ela faz com as peças, removendo a inércia do material, criando um material com vida.
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