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O sequestro da história

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10/12/1999 a 30/01/2000

Lidando com conceitos de apropriação, reprodutibilidade —¨e autoria, Edney parece reafirmar seu contínuo processo —¨auto-investigativo, potencializando questões inerentes —¨Ã  própria natureza da arte.

O corpo da obra de Edney Antunes parece se constituir de investigações acerca de aspectos que tangenciam o social e o comportamental, podendo eventualmente assimilar o discurso conceitual, sem no entanto incorrer, por este procedimento, em maiores compromissos com esta vertente. Interessando-se por aspectos diversos do contexto popular, o artista recorre ao repertório gerado pelo campo de tensões do cotidiano, para estabelecer leituras intercambiáveis com outras áreas da cultura. O tempero, no entanto, é invariavelmente dado pela mordacidade bem-humorada com que subverte qualquer possibilidade de leitura fechada de sua obra. 
Egresso, por formação, da pintura, Antunes teve gradualmente sua produção encaminhada para incursões em outros processos, como a escultura, objeto e instalação. Não se restringindo a determinadas mídias, prefere valer-se da linguagem que melhor traduza suas inquietações para determinado projeto: na recente instalação Vozes (1998), por exemplo, estampa em camisetas depoimentos colhidos junto a segmentos marginalizados da sociedade para comentar uma situação de abandono. 
Em O sequestro da história (1998), aqui apresentado, constrói um inusitado painel, a partir de detalhes ampliados sobre reproduções dos conhecidos retratos do fotógrafo Novarro, onde grandes nomes da produção artística do século são capturados em close. 
A sensação de estranhamento é reforçada pela presença provocativa, em meio à profusão de fragmentos das peles ilustres, do personagem encapuzado – o próprio Antunes, como que reivindicando seu lugar neste panteão (“… numa festa à qual não fui convidado”). 
O artista afirma ser uma preocupação recorrente em seu processo a busca por uma certa identidade para sua obra; a constatação – pelo próprio – da impossibilidade desta empreitada, teria gerado uma subsequente necessidade de expressão desta condição, de resto presente em O sequestro… 
A presença do próprio artista como agente subversor da ordem de um sistema de códigos pré-estabelecidos ganharia as cores de elemento catártico destas angústias pessoais; ao cobrir o rosto com a balaclava, evoca diretamente a ideia da salvaguarda da identidade, confrontando o espectador, devolvendo-lhe o olhar deseperançado e acentuando o desconforto. 
Lidando com conceitos de apropriação, reprodutibilidade e autoria, Edney parece reafirmar seu contínuo processo auto-investigativo, potencializando questões inerentes à própria natureza da arte. 
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