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MariaLíviaTelmaFátimaNiceRosa

Visitação

05/05/2002 a 02/06/2002

Operando com símbolos arquetípicos ligados à figura da mulher, o artista realiza uma crítica ao crescente processo de alienação manifesto na tendência do ‘culto ao corpo’ e faz uma denúncia contundente à permanente condição de violência a que está exposta a mulher no Brasil.

Artista movido por inquietações geradas no campo de tensões do cotidiano, Edney Antunes sempre se interessou por investigar questões de cunho social e comportamental. Em MariaLíviaTelmaFátimaNiceRosa (2000), obra recentemente exibida na última edição da Bienal do Mercosul e agora aqui exposta, Antunes retoma sua verve crítica, agora focada no universo feminino. A instalação compõe- se de três módulos, por assim dizer, integrados num único ambiente e estruturados da seguinte forma: cortinas de voile perfumadas, sobre as quais estão impressos depoimentos de diversas personalidades femininas – sempre relativos à estética corporal, cosméticos e outras vicissitudes associadas a este universo; um painel composto de pedaços de tecido costurados, com aparência de pele, sobre os quais são estampadas imagens de suturas contrapostas a marcas de ferro de passar; e duas tradicionais máquinas de costura, junto às quais estão dispostos pequenos vestidos com textos bordados. 
Operando com símbolos arquetípicos estreitamente ligados à figura da mulher, o artista realiza a um só tempo uma crítica vigorosa ao crescente processo de alienação manifesto na tendência do ‘culto ao corpo’ e suas promessas de beleza  eterna – e da distância que há nas reais condições de acesso a este universo – como também faz uma denúncia contundente à permanente condição de violência a que está exposta a mulher no Brasil, expressa nas imagens de cicatrizes e queimaduras sobre o painel de ‘peles’ e nos vestidos (dispostos nas máquinas de costura) que carregam depoimentos – verídicos – de mulheres que já sofreram algum tipo de agressão física. 
Se em trabalhos recentes como Neo-ready-made bio-tecnológico (2000) o artista já apontava para questões de âmbito ético duvidoso, em tempos de euforia globalizada, ao associar a já popular ovelha Dolly – símbolo das conquistas científicas envolvendo clonagem – a um camaleônico ícone pop, numa divertida e poderosa composição, seu discurso agora é mais seco e direto, sem abrir mão do sarcasmo e ironia bem dosados que perpassam sua trajetória. Efetuando comentários mordazes e bem-humorados, alimentados por uma saudável pitada de ceticismo, Edney Antunes tem se revelado um observador arguto e em sintonia com os eventos de seu tempo.
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