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Laboratório Gráfico Desviante

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06/09/2017 a 08/10/2017

O projeto Laboratório Gráfico Desviante propõe o questionamento de normatizações e cânones de linguagens, não com o objetivo de criar novas normas, mas de discutir e compreender os sistemas de cada linguagem e os possíveis níveis de desconstruções, infiltrações e hackeamentos.

Perguntas sobre/com/por uma linguagem 

Entrevista concedida pelo Laboratório Gráfico Desviante (Bruno Mendonça, Laura Daviña, Júlia Ayerbe, Thiago Carrapatoso e Thiago Hersan) à Ana Maria Maia, inicialmente em um encontro presencial, em 20 de agosto de 2017, em São Paulo, e depois em trocas e edições por meio de um arquivo compartilhado de Google Docs.

Como se formou o grupo?

Júlia Ayerbe: Foi no projeto Cidade Kuir (2016). Se chamava Laboratório Gráfico Kuir, era um grupo de estudos pra entender um pouco as questões relacionadas à representação do kuir graficamente, na escrita, na tradução.

Bruno Mendonça: No projeto Papeleta (2016), que acontecia no espaço Aurora, assumimos outra pauta, relativa a como desnormatizar alguns cânones das publicações. Foi aí que adotamos o nome atual do grupo, Laboratório Gráfico Desviante.

O que pretendem fazer no Paço?

Bruno Mendonça: A gente não vai expor um trabalho, mas um processo de pesquisa. A ideia é abrir a —œcaixa preta— de algumas mediações em uma instituição de arte. Promoveremos cinco debates logo na primeira semana de projeto. Cerith Wyn Evans fala em —œética da fraqueza e política da dúvida—. Queremos debater pois existe certeza demais e muitas vezes nem os próprios produtores (artistas, agentes e instituições) querem se repensar.

Laura Daviña: As ferramentas que criamos ou das quais nos aproveitamos no Laboratório visam a discutir os cânones ou escancarar questões de normatizações. Pretendemos propor experimentos a partir das questões trazidas durante as conversas, usando como suporte o espaço físico, a projeção de vídeo, o espaço virtual e, ao final, uma publicação.

Júlia Ayerbe: Buscamos entender limites entre o desejo de borrar normas e as demandas reais do dia a dia das instituições, por exemplo, receber o público de inúmeras escolas. Nos interessa a concretude das experiências, a perspectiva de quem não só pensa, mas também executa e tem que lidar com tensões e demandas. Pra esses debates, fugimos do auditório porque a gente não quer a hierarquia e o distanciamento dos corpos.

Vocês falam em —œnormatizações e cânones de linguagem—. O que consideram ser alguns desses cânones nos âmbitos da instituição, do design, da arquitetura, da educação ou outros não citados no projeto?

Júlia Ayerbe:  Os cânones ocultam os processos. Optamos por não discutir curadoria, de que já se fala muito. Mas há regras e valores em todas as práticas institucionais. Um exemplo: nos catálogos do MAM de São Paulo não se pode hifenizar o nome das pessoas. O designer pode fazer o projeto que for, mas a isso ele vai ter que atender.

Thiago Carrapatoso: Eu ainda fico deslumbrado com a divulgação das fichas técnicas. O que aquelas informações dizem para o espectador quando ele não está diante da obra? Podem conter dimensão, técnica, coleção, data, mas o que conseguem passar? No fim, nada dizem, mas é institucionalizada a importância da ficha técnica.

Bruno Mendonça: São posturas né?! Um design pode ser experimental demais e se tornar disfuncional? Uma bienal consegue ter uma expografia de artistas e não de arquitetos? Até que ponto uma instituição pode confundir um pouco esses papéis?

As normas e os cânones caracterizam os circuitos de arte em todo o mundo, mas que especificidades podemos considerar no Brasil?

Júlia Ayerbe: Uma característica local é que os projetos são confundidos com as pessoas que os gerem. Desmoronam se elas não estiverem lá. É triste, mas acontece. Outra coisa são regras pouco claras. As normas existem, mas são invisíveis e você só as descobre trabalhando.

Thiago Hersan: Não sei se por um dado cultural ou por falta de recursos, eu sinto que aqui no Brasil as coisas estão um pouco menos formatadas, o que gera uma abertura e uma disponibilidade para a conversa. Aqui eu posso chegar num lugar e propor alguma coisa.

Thiago Carrapatoso: Essa abertura também pode ser problemática, porque se criam instituições sem fins muito bem definidos. Onde está o ethos delas no dia a dia? Parece que as instituições precisam ser “Frankensteins” de si próprias para encontrar uma forma de sobrevivência em qualquer situação econômica.

Um dos temas propostos é a virtualidade. Como querem discuti-lo?

Thiago Hersan: As instituições eram espaços físicos onde você ia acessar coisas. Hoje, se elas não ocuparem o espaço virtual, empresas vão ocupar. Já está acontecendo. O Google está digitalizando obras de arte. Mas isso tudo tem um custo. As instituições precisam começar a se relacionar melhor com seus sites e outras ferramentas que completem a experiência presencial.

Thiago Carrapatoso: Pensando nisso, vamos criar uma rede local, que só poderá ser acessada dentro do museu. Queremos entender como essa situação pode ser experimentada.

O formato de exposição continua sendo o principal medidor da produção em artes. O Laboratório Gráfico Desviante concentra grande parte dos seus esforços em promover debates e vivenciar um processo de trabalho, mas ainda assim ocupa o espaço da sala térrea do MIS. Qual o papel da exposição no projeto?

Laura Daviña: Não precisamos de uma sala expositiva, mas um espaço é importante para visibilizar nossos exercícios e questionamentos no Laboratório.

Bruno Mendonça: Não queremos fetichizar essa presença, mas precisamos de um ponto de encontro. As coisas vão estar borbulhando naquele espaço e é importante estar em contato com ele.

Júlia Ayerbe: Também é importante dizer que, de acordo com o edital, o espaço dos artistas da Temporada de Projetos é a sala de exposição. Poderíamos estar no museu de outro jeito, mas nos cabia ocupar este espaço expositivo. Aliás, metade dele, pois será dividido com outra artista.

Pra quem é o projeto? Quem são os públicos em potencial?

Bruno Mendonça: Acho que esse é um tipo de projeto para criar dúvidas dentro do circuito. Abre-se uma portinha da autocrítica. Como estamos produzindo, quem são os produtores?

Júlia Ayerbe: Ã‰ importante pensar estrategicamente. A partir de uma discussão de uma situação concreta, você abre diversas outras. A concretude de como as coisas funcionam, em escala pequena, oferece situações para analisarmos problemas de escala maior no meio da arte e na sociedade.

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