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Frederico Dalton

Visitação

08/08/2002 a 08/07/2002

Ao percorrer a praia do Flamengo, o artista fotografa os banhistas, acrobatas de areia e vendedores. E seu olhar capta não somente o modus vivendi daqueles que são fotografados.

Rio de Janeiro.Alguém observa … E quem observa?Frederico Dalton.Ao percorrer a praia do Flamengo, o artista fotografa os banhistas, acrobatas de areia e vendedores. E seu olhar capta não somente o modus vivendi daqueles que são fotografados —“ representantes das minorias sociais – quando registra tais imagens cotidianas… Um banhista se lava em uma bica e o outro, ao seu lado, observa. Logo atrás, um rapaz dá um salto mortal enquanto numa carrocinha vende-se algo. O foco está nos banhistas da bica cujo verso é um muro negro. Um vácuo colocado pelo artista? Uma brecha-convite à contemplação? Banhar-se na bica é um hábito comum aos frequentadores da praia do Flamengo, que talvez não tenham fonte melhor para limpar o corpo. Seria então a bica, fonte de um recurso? Ou de esperança? De purificação, desejo, vida ou alimento? Esse questionamento ao redor da ideia de fonte —“ simbolizada pela bica —“ é o cerne da instalação com projeção A Fonte. O slide é projetado no fundo da sala e um friso na parede emoldura a imagem. Como não há noite/cessa toda fonte;/como não há fonte/cessa toda fuga (1). Estaríamos diante de qual fonte?Segundo Alfredo Bosi, o ato de olhar significa um dirigir a mente para um —œato de in-tencionalidade—. E como adivinhar a intenção do artista? Quando Frederico Dalton fotografa, separadamente, dois banhistas com características distintas e os apresenta frente a frente nas paredes da sala expositiva, o que de fato nos é dado a ver? nada é miragemna tela rútila das pálpebras (2)A projeção de slides giratória O Olhar sugere um enfrentamento entre os dois banhistas. As imagens circulam pela parede mantendo sempre seu eixo frontal, como se o olhar dos oponentes fosse o convite ao desafio. E à medida que circulam, sofrem distorções que ocasionam que a forma e o tamanho das imagens sejam sempre diferentes. No eixo do olhar daqueles que ora se enfrentam – e que outrora miravam a câmera – está o espectador. A conjugação oponente-espectador-oponente cria um espaço de simulação onde o espectador representa o mediador de uma luta entre desiguais: com a variação da imagem perde-se o referencial quanto ao real porte do oponente. O que legitima a existência dessa luta?Poesia é voar fora da asa (3).

Notas:
(1) MELO NETO, João Cabral de. Psicologia da composição In MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores poemas do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
(2) BAPTISTA, Josely Vianna. Os póros flóridos. In ASCHER, Nelson, BONVICINO, Régis, PALMER, Michael. Nothing the sun could not explain: 20 contemporary Brazilian poets. Los Angeles: Sun & Moon Classics, 1997.
(3) BARROS, Manoel de. Uma didática da invenção In MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores poemas do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
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