Rua Albuquerque Lins, 1345
Higienópolis
São Paulo, SP, Brasil
CEP 01230-001
+55 (11) 4810-0392
faleconoscopda@pacodasartes.org.br

Fora do lugar

Visitação

02/01/2016 a 28/03/2016

Alex Oliveira buscou experimentar relações compositivas entre corpo e espaço, acaso e objetos diversos encontrados pelas andanças e derivas.

ENTREVISTA COM ALEX OLIVEIRA

Vinicius Scricigo

V.S.: Fale um pouco da sua trajetória artística e do significado do trabalho apresentado no Paço das Artes no desenvolvimento da sua poética. Há uma continuidade de experimentos formais e/ou temáticas anteriores? Quais seriam os elementos principais dessa investigação artística?A.O.: No trabalho Fora do Lugar, é possível notar uma continuidade dos experimentos formais e/ou temáticos no qual venho desenvolvendo na minha poética artística, que se propõe investigar o uso da fotografia aliada à arte contemporânea, performance, arte relacional, redes sociais e intervenção urbana.Fora do Lugar surgiu a partir de investigações artísticas em torno das possibilidades de imbricamento entre fotografia e performance, pesquisa que passei a desenvolver e experimentar, em colaboração com outros artistas, a partir de um exercício cotidiano de criar ficções fotográficas a partir de elementos do real, utilizando-se do precário, acaso e cotidiano como potência criativa.De 2011 a 2015, utilizei a plataforma da rede social Facebook como um espaço expositivo de imagens artístico-fotográficas, expondo no espaço virtual, imagens construídas a partir das relações estabelecidas entre os distintos ambientes por onde passei, convocando as pessoas que encontrava —“ desde amigos próximos a desconhecidos —“ para participar das ações e experimentações artísticas, que foram sendo construídas a partir do acaso e do cotidiano, como também a partir de derivas e —œerrâncias— feitas por diferentes espaços e lugares.Desta forma, Fora do Lugar surgiu a partir destas investigações artísticas, em fotografia e performance. A túnica e a —œtaeia— árabe foram trazidas de Berlim, depois de um mês vivendo naquela cidade e sendo, constantemente, confundido com um árabe, período em que reforcei, ainda mais, alguns traços fenótipos de semelhança, vivenciando e produzindo, a partir de andanças e derivas, diversas narrativas, diálogos e atravessamentos.V.S.: Muito embora você se aproprie da vestimenta árabe tradicional e —œtraços fenótipos— que remetem a uma suposta ascendência árabe, as imagens não nos remetem necessariamente aos costumes e tradições árabes ou mesmo a um relato seu sobre essa cultura. Elas são de certa forma —˜silenciosas—™. Parece não haver elementos familiares; existe algo inquietante, como um estranhamento ligado ao estado posterior de abandono de um —œlugar da infância— revisitado anos mais tarde. Existe alguma relação para você entre um deslocamento espacial, esse estar fora de lugar, e a forma como nos recordamos do nosso passado, como por exemplo, as histórias vividas na nossa infância? Como você constrói suas imagens nesse limiar entre espaço e memória?A.O.: Fora do Lugar traz realmente um silêncio presente nas imagens, como você mesmo disse. A narrativa não é construída de forma linear e, muitas das vezes, as imagens não se complementam. Os espaços escolhidos para a criação das imagens entremeiam espaços de memória afetiva, como também paisagens e ambientes privados que foram encontrados a partir de viagens e derivas pela Bahia.Estes espaços silenciosos da narrativa se revelaram necessário durante a construção desta ficção fotográfica, pois não tenho compromisso com o real. A ficção surgiu de uma proposição de experimentar a fotografia como uma forma de gerar movimentos, partindo de uma semelhança e propondo criar ficções, revisitando espaços e paisagens, invertendo e embaralhando lugares e memórias.No local onde apareço sobrepondo a foto de uma mulher em frente ao meu rosto —“ que neste caso é a minha avó materna Corina, num retrato 3 x 4 ampliado —“ é um reservatório de água abandonado, localizado em cima de uma montanha, no fundo da antiga casa que morei por muitos anos na minha cidade natal, Jequié. Este espaço é um lugar afetivo, uma ruína que já existia desde a minha infância.Sendo assim, este trabalho propõe questões ligadas à identidade, memória, invenção, ficção. Busco criar paralelos com a sensação de desterritorialização, ou seja, com um sentimento de estar, permanentemente, Fora do Lugar e/ou não pertencer mais a lugar nenhum. Por isso, considero que o silêncio faz parte da própria narrativa, e que não necessariamente busco dar respostas, e sim, levantar questões, ou deixá-las em aberto. Como sugerir mais do que contar? Como os lugares podem ser outros? Como a fotografia pode ser ficção e forjar realidades? Como entrecruzar elementos da minha experiência, da minha história, para construir ficções?
Governo do Estado de SP