Visitação
02/01/2016 a 28/03/2016
Alex Oliveira buscou experimentar relações compositivas entre corpo e espaço, acaso e objetos diversos encontrados pelas andanças e derivas.
ENTREVISTA COM ALEX OLIVEIRA
Vinicius Scricigo
V.S.: Fale um pouco da sua trajetória artÃstica e do significado do trabalho apresentado no Paço das Artes no desenvolvimento da sua poética. Há uma continuidade de experimentos formais e/ou temáticas anteriores? Quais seriam os elementos principais dessa investigação artÃstica?A.O.: No trabalho Fora do Lugar, é possÃvel notar uma continuidade dos experimentos formais e/ou temáticos no qual venho desenvolvendo na minha poética artÃstica, que se propõe investigar o uso da fotografia aliada à arte contemporânea, performance, arte relacional, redes sociais e intervenção urbana.Fora do Lugar surgiu a partir de investigações artÃsticas em torno das possibilidades de imbricamento entre fotografia e performance, pesquisa que passei a desenvolver e experimentar, em colaboração com outros artistas, a partir de um exercÃcio cotidiano de criar ficções fotográficas a partir de elementos do real, utilizando-se do precário, acaso e cotidiano como potência criativa.De 2011 a 2015, utilizei a plataforma da rede social Facebook como um espaço expositivo de imagens artÃstico-fotográficas, expondo no espaço virtual, imagens construÃdas a partir das relações estabelecidas entre os distintos ambientes por onde passei, convocando as pessoas que encontrava — desde amigos próximos a desconhecidos — para participar das ações e experimentações artÃsticas, que foram sendo construÃdas a partir do acaso e do cotidiano, como também a partir de derivas e —errâncias— feitas por diferentes espaços e lugares.Desta forma, Fora do Lugar surgiu a partir destas investigações artÃsticas, em fotografia e performance. A túnica e a —taeia— árabe foram trazidas de Berlim, depois de um mês vivendo naquela cidade e sendo, constantemente, confundido com um árabe, perÃodo em que reforcei, ainda mais, alguns traços fenótipos de semelhança, vivenciando e produzindo, a partir de andanças e derivas, diversas narrativas, diálogos e atravessamentos.V.S.: Muito embora você se aproprie da vestimenta árabe tradicional e —traços fenótipos— que remetem a uma suposta ascendência árabe, as imagens não nos remetem necessariamente aos costumes e tradições árabes ou mesmo a um relato seu sobre essa cultura. Elas são de certa forma —silenciosas—. Parece não haver elementos familiares; existe algo inquietante, como um estranhamento ligado ao estado posterior de abandono de um —lugar da infância— revisitado anos mais tarde. Existe alguma relação para você entre um deslocamento espacial, esse estar fora de lugar, e a forma como nos recordamos do nosso passado, como por exemplo, as histórias vividas na nossa infância? Como você constrói suas imagens nesse limiar entre espaço e memória?A.O.: Fora do Lugar traz realmente um silêncio presente nas imagens, como você mesmo disse. A narrativa não é construÃda de forma linear e, muitas das vezes, as imagens não se complementam. Os espaços escolhidos para a criação das imagens entremeiam espaços de memória afetiva, como também paisagens e ambientes privados que foram encontrados a partir de viagens e derivas pela Bahia.Estes espaços silenciosos da narrativa se revelaram necessário durante a construção desta ficção fotográfica, pois não tenho compromisso com o real. A ficção surgiu de uma proposição de experimentar a fotografia como uma forma de gerar movimentos, partindo de uma semelhança e propondo criar ficções, revisitando espaços e paisagens, invertendo e embaralhando lugares e memórias.No local onde apareço sobrepondo a foto de uma mulher em frente ao meu rosto — que neste caso é a minha avó materna Corina, num retrato 3 x 4 ampliado — é um reservatório de água abandonado, localizado em cima de uma montanha, no fundo da antiga casa que morei por muitos anos na minha cidade natal, Jequié. Este espaço é um lugar afetivo, uma ruÃna que já existia desde a minha infância.Sendo assim, este trabalho propõe questões ligadas à identidade, memória, invenção, ficção. Busco criar paralelos com a sensação de desterritorialização, ou seja, com um sentimento de estar, permanentemente, Fora do Lugar e/ou não pertencer mais a lugar nenhum. Por isso, considero que o silêncio faz parte da própria narrativa, e que não necessariamente busco dar respostas, e sim, levantar questões, ou deixá-las em aberto. Como sugerir mais do que contar? Como os lugares podem ser outros? Como a fotografia pode ser ficção e forjar realidades? Como entrecruzar elementos da minha experiência, da minha história, para construir ficções?