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Errar é humano

Visitação

07/06/2005 a 16/07/2005

É o acaso que determina a configuração das obras nesta nova série de Roger Barnabé. A partir de sorteios numéricos envolvendo 250 cores (a cada uma delas foi atribuído um algarismo), criam-se formas bidimensionais que ele apelidou de “estrelas”.

“Encontrei este tecido listrado que me permitiu fazer, em primeiro lugar, uma crítica pessoal e, em seguida, uma critica radical das obras de arte – reduzindo minha própria atividade a alguma coisa desesperada, quase nula: uma pintura que não é mais nada senão uma ponta de tecido bem visível, pois ele não é nem branco, nem bege, nem listrado, e sobre o qual há um traço de pintura cada vez mais reduzido. Eu queria fazer alguma coisa neutra, Impessoal.” Daniel Buren 
É o acaso que determina a configuração das obras nesta nova série de Roger Barnabé. A partir de sorteios numéricos envolvendo 250 cores (a cada uma delas foi atribuído um algarismo), criam-se formas bidimensionais que ele apelidou de “estrelas”. Cada par delas compõe um trabalho, uma impressão digital sobre papel. Há uma progressão segundo a qual as “pontas” (listras verticais de tamanhos e cores diferentes) vão aumentando em quantidade: a primeira obra reúne estrelas de dez pontas cada; a segunda, 12 pontas; e assim sucessivamente até chegar ao limite de 28 pontas. Outro dos aspectos essenciais do trabalho é o branco como signo da ideia de cor, ocupando sempre o papel de denominador comum de duas séries diferentes de cores, separadas por ele, no centro. 
Ao criar um método que resultou nessa estrutura (funcionando como suporte para a cor), um dos objetivos declarados do artista foi usar a cor “de modo essencial”, a fim de estabelecer ideal mente relações somente entre elas -livres de eventuais limitações da forma. Em seu anteprojeto para esta exposição, Barnabé chamava a atenção para o fato de que uma cor não ocupa, a priori, qualquer lugar no espaço. Não possui uma forma, mas precisa de uma para se tornar visível, seja um ponto colorido no papel, um navio pintado de vermelho, um Metaesquema ou um Parangolé de Helio Oiticica. Com isso, ele pretendia evitar a instituição de um princípio ordenador do trabalho. 
Cabe aqui a pergunta: o que significa conferir ao azar a tarefa de decidir sobre a configuração de uma obra de arte? Entre outras coisas, tira-se do artista o peso da decisão sobre sua criação. Entrega-se a uma fórmula reguladora e antivirtuose, fora dele, a responsabilidade pela forma com a qual a obra vai ocupar o mundo. Como na maior parte dos trabalhos da Arte Conceitual, as operações inventadas e realizadas no decorrer das ações são mais importantes que o resultado final, a consagração do autor e a fetichização do objeto de arte. 
Barnabé faz aqui uma opção clara: “Prefiro não interferir no processo, para ver as coisas como são, e não como gostaria que fossem”. Desta maneira, estabelece um diálogo com manobras semelhantes realizadas nos anos 1960 por Daniel Buren (suas célebres superfícies listradas) e, nos anos 1990, por Damien Hirst (as “pinturas automáticas”, feitas por máquinas de parques de diversões, batizadas Beautiful. .. Painting). 
Apesar de sua tentativa de criar um sistema lógico e racional, bem estruturado conceitualmente de forma a absorver e anular eventuais operações de desconstrução, a nova série de Roger Barnabé poderia ampliar seu potencial crítico e oferecer novas possibilidades de leitura se buscasse superar ou tensionar, no sistema da pintura, as antigas discussões em torno das questões históricas da representação, autoria, forma e cor. 
Segundo ele, “trata-se de uma ‘pintura digital’. Mas um modo de pensar a cor e a forma que ainda é pictórico”. O artista caracteriza suas dez plotagens verticais em grande formato (1 m x 1,35m) de “múltiplos”. E a impressão digital seria o suporte mais apropriado, uma vez que, além de  eliminar a temporal idade impregnada na manufatura, confere aos trabalhos  a capacidade de serem reproduzidos indefinidamente. “Por isso, eles foram concebidos digitalmente, no computador, e existem como informação binária.” 
Na questão da autoria e seu suposto esvaziamento, o paradoxo mais aparente (e, de certa forma, perverso) instituído pela manobra do artista reside no fato de que, uma vez adotado o seu parti-pris, qualquer pessoa pode supostamente recriar essa operação, mas fatalmente estaria refazendo “um trabalho de Roger Barnabé”. 
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