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Dos sem teto

Visitação

23/04/1997 a 25/05/1997

A produção artística de Josely Carvalho explora temáticas culturais, sociais e históricas enfocando a preservação da memória individual e coletiva.

A primeira vista, a instalação de Josely Carvalho alude a questões construtivas e parece referir-se a uma herança minimal. Afinal, a obra é composta do puro e simples empilhamento de 3500 telhas, dispostas de forma cilíndrica sobre o chão. 

O trabalho se apresenta como uma construção. Utilizando o material primordial de uma habitação – seu teto, feito de telhas de barro – a artista propõe ao observador uma arquitetura retirada diretamente da vida. Revela as telhas empilhadas e arrumadas numa disposição que facilita seu carregamento do chão. Equipara a instalação, dotada do status artístico, com o prolongamento do trabalho de um operário de construção, de um carregador de telhas. Repete na construção artística a mesma forma circunferencial de organização das telhas utilizadas pelos trabalhadores para secagem artesanal e carregamento. 
O título da instalação expande suas possibilidades de leitura. Atribui a Dos Sem Teto caráter de construção de tensão. Em forma de denúncia social, a obra alude ao épico e indecente problema de moradia no Brasil através, justamente, de um objeto simbólico que aponta sua solução. Telhas empilhadas são metonímias do lar, da casa. Mas também são fragmentos da construção de histórias da própria artista. Dos Sem Teto surgiu do acúmulo de fotos de telhas empilhadas, realizadas em Morro de São Paulo, Bahia. 
Carregadores de telhas demarcam a instalação, colaborando, de início, em seu empilhamento estrutural e, no final, conduzindo as telhas da desmontagem da exposição à construção real de moradias (após a mostra, as telhas são doadas). A artista documenta o processo de cada parte da série, da obra que se inicia no barro e termina no teto de uma família. 
Dos Sem Teto se constrói na tensão entre o formalismo aparente e o comentário social intrínseco. A obra toma força na síntese entre uma visual idade construtiva – que a faz “arte”- e uma a essência humana que reclama a vida, desprovida de consciências abstratas – que a torna “não arte”. Ao invés de injetar o social e o político à arte, atribuindo-lhe, assim, um caráter revolucionário e transformador, Carvalho incorpora à arte, a vida. Ela fala por si.
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