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Relato da Mesa: Arquivos vivos I: o modo documental na arte

A pergunta lançada em torno da documentação, tanto no âmbito da produção artística contemporânea, quanto nas instâncias institucionais, trouxe diferentes abordagens dos palestrantes participantes: Sarah Zurcher, Joerg Bader e Mabe Bethônico. Kátia Maciel ficou responsável pela mediação, enquanto Lucas Bambozzi, Paula Alzugaray, Christine Mello e Paulo Herkenhoff participaram da mesa como debatedores.Sarah Zurcher, diretora do Centre d´Art Contemporain Kunsthalle (Suíça), centrou sua intervenção nas noções de fluxo de tempo e espaço de fluxo. —œTempo e Espaço constituem categorias fundamentais da nossa existência e da nossa percepção do universo—, afirmou a curadora. Enquanto tais são centrais na compreensão de um mundo contemporâneo em transformação. Para ela, essas noções estão entrelaçadas com a idéia de territórios, que ressurgiu a partir dos ataques de 11 de Setembro. Território se contrapõe ao espaço de fluxo, que é móvel e virtual. Nesse sentido, Sarah coloca a questão: O espaço físico, realmente se transformou numa configuração mais fluida e líquida? Por fim, num arco amplo de relações e destacando a produção de alguns artistas contemporâneos (Jorge Macchi, Marco Poloni, Sean Snyder, entre outros), a diretora centrou a palestra no âmbito do espaço de negociação e da democracia e a noção deleuziana da —œdesterritorialização—.Joerg Bader, diretor do Centre Photo Génève (Suíça), lançou um recorte mais específico em torno das relações críticas e ficcionais entre fotografia, arquivos e museus. O diretor localiza a entrada da fotografia no mundo artístico a partir das vanguardas históricas, especificamente com as foto-colagens e montagens dos dadaístas e futuristas. Mas, são as fotografias de Walker Evans que trazem o aspecto que interessa a Bader de forma mais importante. No final dos anos 1920, Evans cria, no Estados Unidos, o —œdocumentary style—. Privilegiando a padronização e a sistematização da fotografia, coloca o fotógrafo como um colecionador, —œcomo alguém que coleciona coisas com seus próprios olhos—. Joerg Bader concentra, ainda, grande parte da sua apresentação na crítica elaborada por Douglas Crimp em torno do acervo fotográfico da Biblioteca Pública de Nova Iorque. A descoberta de ampliações fotográficas originais em livros (como a de August Salzmann no Departamento Egípcio da Biblioteca), transformou a sua própria forma de arquivamento. Os livros foram literalmente destruídos, com cada fotografia recortada, retirada do contexto original. Para Crimp, a admissão da fotografia como uma mídia autônoma no museu, significa o fim do modernismo e o fim do próprio museu. Bader, finaliza a sua apresentação a partir do postulado de Crimp: —œtalvez esses fins são possibilidades para um novo início—. Esse novo início, é localizado pelo palestrante nos contextos críticos e procedimentos arquivísticos presentes no campo artístico contemporâneo, intensamente explorados nas últimas Documentas e em outras exposições em importantes instituições.A artista brasileira Mabe Bethônico fez uma apresentação multimídia propondo o diálogo entre fotografias de minas do século 19, imagens atuais de florestas, inserções sonoras e a leitura de trechos do livro “Geografia General y Compendio Histórico del Descubrimiento y Conquista de Antioquia”, de 1885. Os fragmentos tratam de aspectos naturais, sociais e políticos da região de Antioquia, na Colômbia e foram fundamentais à sessão, que apresentou a intervenção da artista na biblioteca do Museu de Antioquia. Mabe relatou sobre o processo de transformação que encabeçou este ano nessa instituição, em que fora convidada a pensar a maneira de organizar e expor o material disponível no museu. A partir da crítica dos critérios de classificação e dos dados quantitativos da mineração, explicita a negação de qualquer análise social, ambiental ou política sobre a extração. A partir desse viés, propõe uma diferente organização e dinâmica à biblioteca do museu. A reflexão em torno dos museus e a cidade, a relação entre o ficcional e o documental são questões recorrentes no trabalho da artista.

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