Entrevista com Giorgio Ronna sobre a exposição Walking

O Paço das Artes inaugura a 11ª edição da Temporada de Projetos de 2013 no dia 25 de janeiro, sexta-feira, às 18h, com o projeto de curadoria Walking, de Giorgio Ronna. A exposição sobrepõe as reflexões sobre o ato de caminhar dos autores Henry David Thoureau (Walking), Jean-Jacques Rousseau (Os devaneios do caminhante solitário), Walter Benjamin (O flanêur) e João do Rio (A alma encantadora das ruas). Obras das artistas Brígida Baltar, Christa Ziegler, Lia Chaia, Marina Camargo e Marion Velasco compõem a exposição. Ronna fala sobre o tema e as obras escolhidas na entrevista a seguir: 

Para este projeto curatorial, você escolheu um tema que sugere uma reflexão metafórica sobre o ato de caminhar e a relação do homem com paisagens urbanas e naturais. Gostaríamos que você falasse um pouco sobre isso. 
A bipedalidade foi a grande revolução em nossa árvore genealógica —” o esqueleto da Ardipithecus ramidus, de 4.4 milhões de anos atrás, mostra que o caminhar precedeu o pensar. Mais que sobre caminhar, essa exposição é sobre os estados que atingimos pelo deslocamento a pé. Henry David Thoureau falava de um magnetismo da natureza para justificar suas caminhadas por bosques e campos. Walter Benjamin utilizou a mesma expressão ao refletir sobre o vaguear do flanêur pela metrópole que se constituía no século XIX. Certamente todas as artistas deste projeto compartilharam deste magnetismo, mas o que interessa aqui são as reminiscências dos estados que atingiram em suas caminhadas por campos, montanhas e cidades.
Você cita clássicos da literatura e da filosofia de diferentes épocas e lugares. De que forma essas obras se relacionam na construção do projeto? 
Essas obras, que li em períodos diferentes e de forma aleatória, um dia se apresentaram para mim como um conjunto definido. Foi durante a leitura da obra de Thoureau que entendi aquele conjunto como material para uma curadoria e, por essa razão, tomei o título emprestado para o projeto. Acredito que as reflexões desses pensadores me permitiram também estabelecer relações indiretas entre as obras da exposição. 
Como se deu a escolha das artistas? 
Foi realmente algo instantâneo e intuitivo, seguido da identificação desse tema como objeto de exposição. Eu acompanho o trabalho de todas elas há bastante tempo. As coletas de neblina da Brígida Baltar desde 1996, quando estavam acontecendo e começaram a ser expostas. Da intervenção urbana de Lia Chaia, que aconteceu em 2004 e é um trabalho inédito, tomei conhecimento naquele ano quando trabalhávamos na exposição Entre pindorama, que foi minha primeira curadoria, junto com Elke aus dem Moore para a Künstlerhaus Stuttgart. A série de Christa Ziegler eu vi em 1999 e foi muito marcante pela articulação das possibilidades narrativas e pictóricas desse fluxo de pedestres que ela foi encontrando em caminhadas. Com Marion Velasco, uma flanadora que constantemente documenta imagens e sons, e com Marina Camargo, que tem diversas séries que surgem de percursos e deslocamentos, foi uma escolha a partir das práticas dessas artistas —” a identificação das obras a integrarem o projeto aconteceu em um segundo momento. 
Gostaríamos que você comentasse como o seu projeto se relaciona com a ideia de fomento à experimentação artística trazida pela Temporada de Projetos.
Eu participei de duas exposições no Paço das Artes: em 2004 na Temporada de Projetos com a instalação de vídeo e fotografia Nem dia, nem noite, e em 2009 com uma instalação de vídeo no projeto Estado de exceção, de Marcelo Rezende. Essas duas experiências e suas reverberações na minha produção foram a motivação para enviar o projeto de Walking para a Temporada de Projetos. Quanto ao caráter experimental, fico muito feliz pela comissão ter enxergado algum ineditismo em minha proposta.
Giorgio Ronna atua como curador, artista, pesquisador e fotojornalista. Em 2012, ingressou no curso de especialização em Cultura e Arte Barroca da Universidade Federal de Outro Preto (UFOP, MG). Além da exposição Walking no Paço das Artes (SP, 2013), envolve-se com a curadoria do III Prêmio Artes Visuais João Simões Lopes Neto, no Instituto Simões Lopes Neto (RS, 2012), da mostra Entre Pindorama: Arte Brasileira Contemporânea e Antropofagia, no Künstlerhaus Stuttgart (Alemanha, 2004), entre outros projetos. Participa de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, entre elas a individual Pudel Kollektion, em Hamburgo (Alemanha, 2008) e a coletiva The Power of Making, em Londres (Inglaterra, 2011). Giorgio nasceu em 1970 em Pelotas (RS), cidade onde vive e trabalha.
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