Sobre a grandiosa produção realizada no cinema experimental e na performance registrada em filme/mÃdia, muito já foi visto e estudado desde os anos 1960-1970 — mas, seguramente ainda não acerca dos campos vadios do misticismo visual gaúcho e de seu emblemático Paralelo 30, percebido a partir das noções conceituais em contato com a Estética do frio, desenvolvida por Victor Ramil. Ã ali que surge em essência o que faz distinguir tal imaginação â inspirada por incidências brandas de luz natural, horizontes tênues como paisagem, o afastamento da aceleração do tempo e a alienação no movimento de imagens.
Distruktur, a dupla formada por Gustavo Jahn & Melissa Dullius apresenta, em maio de 2012, para esta 2a edição do Performa Paço, uma sequência de filmes performance desenvolvidos entre nomadismos pelo Brasil, Alemanha (paÃs em que residem), Egito e Rússia, terrenos entrelaçadamente propÃcios para a sua forte criação.
New perspectives on moving
Os processos manuais de revelação quÃmica de filmes de 16mm e Super-8mm e uma copiadora de cinema em seu LaborBerlin â o laboratório colaborativo sediado numa piscina de bairro transformada em ambiente de experimentação artÃstica em Wedding (Berlim) â dimensionam a inspiração livre de limites da dupla de artistas.
O acontecimento que deflagra a projeção é o momento natural da junção carnal-mecânica dos artistas com os seus projetores 16mm. O tempo de duração é disparado pela pelÃcula celuloide. Uma capa aural recobre os corpos em ação de imagens caleidoscópicas e fragmentos lisérgicos. A definição dos contornos entre autor e imagem desaparece na superposição. Em seu núcleo, os filmes performance de Gustavo Jahn & Melissa Dullius, agem como os olhos do gato no filme Cat Effekt (2011), nos enveredam por sensações e estranhas oscilações de movimento em falso, quando em realidade tudo parece estar parado ao redor.
Ãternau Alterstereo (2011), Guerrero (2011) e Filme de Pedra (2012), formam em série uma vasta e incerta coleção de imagens ancestrais de pedras: grandes rochas costeiras recortadas de sua real geografia; pedras coletadas em bolsos durante caminhadas vagabundas materializam-se sob algum efeito inexplicável de talismã no prólogo de seu filme Triangulum (2008); como em Um golpe do destino: o recomeçar, 1000 vezes recomeçar â um ferido cego e uma foto nas mãos. Ou a colagem dos cacos de memória das pedras de Oaze, Iêmen, do ano 1878 no filme Ãternau (2006).
A profusão de cenas de corpos lânguidos e inertes sobre camas-—ciénagas— em seus filmes, corpos atravessados por presenças invisÃveis, atiça o olhar e a percepção na crença das primeiras imagens imemoriais da dupla de artistas.
Return to Sender
Com os seus filmes performance, Distruktur exibe o poder do qual irrompe aqui imbuÃdo: um espÃrito que se imanta a instigantes field trips, fortalecido por um imaginário artÃstico repleto de cultos exóticos e secretos, praticados por aqueles que são os viajantes do tempo.
Marcio Harum
Kassel, abril e maio de 2012
Distruktur: Gustavo Jahn & Melissa Dullius
Desde 2006, Gustavo Jahn (Florianópolis, 1980) e Melissa Dullius (Porto Alegre, 1981) formam a dupla Distruktur. Seus filmes, instalações e filmes performance tem sido exibidos em festivais, como o Berlinale, festival de cinema de Berlim (Alemanha) e o Festival Internacional de Cinema de Turim (Itália),, e em centros de arte como o Museu de Arte Contemporânea de Nova York (EUA) e na Caixa Cultural do Rio de Janeiro.
Em mostras de cinema foram apresentados programas com seus filmes no Festival Internacional de Cinema de Moscou, no Festival Internacional Curta-Cinema do Rio de Janeiro, no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo e pelo Instituto Itaú Cultural em Curitiba.
Atualmente trabalham no projeto Fluxus et refluxus, um filme-projeto em andamento pelo qual receberam uma bolsa da Kunstlerinnenprogramm de Berlim para a sua realização. Vivem em Berlim. Conheça o trabalho da dupla: www.distruktur.com