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Teresa Viana

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24/11/1998 a 21/12/1998

Teresa Viana reflete sobre questões diretamente ligadas à tradição da pintura e suas possibilidades entre matéria e cor.

A pintura para Teresa Viana é o estabelecimento das relações entre matéria e cor, uma indissociavelmente ligada à outra. O uso da encáustica lhe garante a cor vibrante e opaca, densa e maleável. Propõe também a superfície espessa e de textura generosa. Sem buscar similaridade com as cores do mundo, busca não a luminosidade cromática e etérea, mas a cor concretizada em massa pastosa, que se metamorfoseia em outra, ambas saturadas, sem a contaminação das tonalidades médias. Superfícies irregulares, suas pinturas conservam a marca de sua gênese, que não chegam a configurar cicatrizes, por serem simultâneas à sua origem e não opostas à pele já criada. Ponto médio entre cor materializada e matéria cromática, suas últimas obras propõem um novo elemento. Estão mais próximas à potência da lava vulcânica brotando da terra do que à melancolia das neblinas retratadas por Turner. Sua materialidade alude ao elemento vidro – areia fundida ao estado de líquido de grande densidade – colorido que conforma o vitral e não à luz intangível por ele filtrada. Sua compreensão da pintura põe diante dos olhos a palheta usada por Monet. Palheta no sentido estrito do termo, significando a madeira em que dispunha as massas de cores puras, onde o tempo, ou melhor, as suas pinturas (as das telas) iam criando uma outra superfície cromática, matriz geradora das impressões retinianas de Giverny. Palheta como a ferramenta que possibilita a pintura, mas em si traz todos os caracteres da mesma, mas também como cor, a matéria que permite que essa pintura aconteça.

(fragmento de texto)

Visitação

27/01/2005 a 27/02/2005

Vinda de uma trajetória como artista em franco diálogo e embate com a tradição modernista, Teresa Viana responde, com sua instalação recente no Paço das Artes, aos quatros mitos fundadores do discurso modernista: horizontalização, materialismo rasteiro, pulsação e entropia.

São quatro os mitos fundadores do discurso modernista, segundo Yve-Alain Bois e Rosalind Krauss. O postulado de que as artes visuais, especialmente a pintura, dirigem-se unicamente ao sentido da visão é o primeiro deles. A —œtatilidade— a que toda a história da arte se refere não passa da representação visual desta qualidade, fazendo com que tudo o que é tátil possa ser apreendido em um instante pelo olhar, o que constitui o segundo postulado. Além disso, o —œpuramente visual— da arte se mostra ao espectador em uma postura ereta, em tudo oposta ao —œeixo horizontal que governa a vida dos animais—, escrevem, definindo o terceiro mito fundador. Sendo concebidas como seções verticais colocadas à altura dos olhos, o quadro modernista pressupõe o esquecimento pelo observador de que seus pés estão imersos em sujeira no momento de contemplação. —œA arte, de acordo com esta visão, é uma atividade subliminatória que separava o espectador de seu próprio corpo.—O quarto postulado decorre do terceiro: a ontologia modernista exige que uma obra de arte tenha começo e fim e que qualquer desordem aparente seja reabsorvida necessariamente pelo fato de a obra ser limitada. Na curadoria que realizaram no Centre George Pompidou em Paris, em 1996, intitulada L—™Informe: Mode d—™emploi, Bois e Krauss derrubam os quatro mitos devolvendo-lhes em resposta quatro operações: base materialism, pulse, horizontality e entropy. Vinda de uma trajetória como artista em franco diálogo e embate com a tradição modernista, Teresa Viana responde, com sua instalação recente no Paço das Artes, aos quatros mitos fundadores por meio de operações semelhantes àquelas exploradas em Formless—“ A User—™s Guide.Horizontalização —“ Uma pintura ocupando o espaço real, uma pintura que abandona o espaço da tela para expandir-se por duas paredes e que, assim, proporciona sensação física e visual ao mesmo tempo. A obra de Teresa Viana é para ser vista com os olhos e com o corpo. Os volumes são reais, não podem mais ser representados. Assim como As cores não podem mais ser naturalistas, porque a pintura tem a ver com a digestão da experiência no mundo de hoje. A pintura que se pratica hoje está inevitavelmente impregnada de TV, cinema, mídias.Materialismo rasteiro —“ As cores não estão mais concentradas como nas pinturas sobre tela; elas como que se espalharam e diluíram no processo de espraiamento pela superfície da parede. Respingos, escorridos, marcas de mãos e de pincéis dão a ver que a matéria se impôs e teve um papel tão importante quanto o gesto. As estruturas de arame e papelão mal param de pé. Concavidades e reentrâncias devem ser descobertas bem de perto, num corpo a corpo com a obra. Pulsação – Aquela estalactite amarela do lado esquerdo e também o redemoinho marrom e bege na parte superior do lado direito negam o caráter —œfestivo— que aparentemente a obra poderia ter. Não se trata de uma festa de cores; antes, de uma luta destas cores e destas massas tentando se acomodar. O que é impossível. Não é uma cor ou outra, é um conjunto pulsante em uma batalha. Alguns tubos ou artérias parecem pulsar no subterrâneo, encenando torções, como se formas quisessem se despregar e sair. Entropia – Aqui, o sujeito precisa se abaixar, se esquivar, se haver com o incômodo de uma pintura que não tem fecho, não tem fim, que não se resolve —œdentro do quadro— à forma tradicional. Trata-se de pintura como estado de consciência alterado, porque ativa certas sensações desconhecidas, mexe com potencialidades humanas adormecidas, com certos processos de construção de sentido não digeridos na nossa cultura. 

Governo do Estado de SP