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Tatuagens

Visitação

08/07/2001 a 05/08/2001

Nino Rezende discute a questão da identidade em suas séries fotográficas. Na série Tatuagens partes do corpo tatuadas aparecem relacionadas com situações de aprisionamento e dor.

Grandes temas centrais da arte e da vida humana: a ideia da transgressão da ordem —“ a saudade do paraíso perdido —“ a volta à unidade (Murilo Mendes). A volta à unidade por meio da busca da identidade. Nino Rezende discute a questão da identidade em suas séries fotográficas desde 1998, quando realizou a série Abschied (Despedida). Traduz suas inquietações ao registrar cenas do cotidiano dos jovens e dos movimentos urbanos em Berlim (onde vive) tais como o Gay Pride e Love Parade, utilizando a técnica da falsa solarização e banho de gelatina para obter como resultado imagens monocromáticas em cores fortes como o vermelho, azul, amarelo e verde que conferem um caráter fantasmagórico ao retrato. 

No projeto Fade-out que Nino apresenta no Paço das Artes, pessoas anônimas são fotografadas nas ruas, uma após a outra num espaço de tempo bastante curto, onde a imagem de um passante é imediatamente substituída pela do próximo e assim por diante.
A esse fator agrega-se o processo de revelação da imagem, que recebe um tratamento específico para remover os tons de cinza e negro restando somente tonalidades de branco. Nesse sentido, Nino mantém a monocromia de séries anteriores, agora com o uso do branco, assim como o caráter fantasmático da imagem. A diferença está nos vestígios que o branco sobre branco proporciona: tornam-se visíveis fragmentos do retrato, como um sorriso, olhar, um detalhe da roupa, instigando o espectador a buscar o momento em que a imagem ressurge em sua totalidade. Além de Fade-out o artista apresenta também a série Tatuagens, onde partes do corpo tatuadas aparecem relacionadas com situações de aprisionamento e dor.
Fade-out denota um caráter espiritual e cria uma situação paradoxal na qual as pessoas retratadas aparentemente deixam de existir ao mesmo tempo em que são reais. O que se revela, na verdade, por meio dos vestígios/fragmentos, é a essência dos anônimos no momento em que foram retratados. O que sentiam? O que podemos resgatar desses momentos observando o branco sobre branco? O que restou? Quando surge e deixa de surgir? Tatuagens são também fragmentos, mas de outra natureza: a figura humana é cortada, e a pele tatuada torna-se ela própria um detalhe. Aqui, não o vestígio, mas o desenho sobre o corpo – enquanto cicatriz/marca – somado a elementos que interagem com esse momento, como a agulha (causadora da cicatriz), é que atrai o espectador. 
O questionamento sobre a identidade é dado nos dois momentos: em Fade-out, o fato de aparecer e desaparecer pode revelar ou esconder, perguntar ou responder, ser ou não ser. Já em Tatuagens traz um determinado grupo de pessoas que são identificadas por suas tatuagens. Aqui e lá é irrefutável a posição do indivíduo perante a sociedade na qual está inserido, com quais costumes, situações e crenças. 
Como diz o poeta romantista gaúcho José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo Santo, “Sempre os costumes —“ estão arraigados!” E são esses costumes, por assim dizer, que compõem o indivíduo, onde quer que ele esteja e que o fazem carregar toda a carga cultural que pode vir à tona ou dissolver como num Fade-out.
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