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Sem título #4

Visitação

28/10/1999 a 14/11/1999

Os vídeos produzidos pelos artistas criam um trabalho silencioso, que requer um olhar demorado, para —¨trazer à tona as funções vitais do corpo “natural” em constante —¨embate com os meios “artificiais” de reprodução de imagens.

A revolução tecnológica da era digital introduziu no vocabulário da cultura visual popular a proliferação de imagens manipuladas, construídas ou alteradas no computador. Seja através dos anúncios publicitários, do cinema, da televisão ou da Internet, somos cotidianamente levados a nos relacionar com uma nova iconografia digital. Nos vídeos e fotografias de Leandro Lima e Gisela Motta, o uso de recursos tecnológicos está justamente ligado a seu caráter “popular”. A familiaridade que hoje temos com eles e seu alto poder de sedução. Mas essa atração é logo substituída por um sentimento de profundo estranhamento, numa operação contrária à ideia de apreensão imediata característica dos meios de comunicação de massa. O que encontramos no trabalho desses artistas é uma pesquisa que se reporta diretamente ao corpo; não o corpo erotizado da publicidade, mas lugar de circulação de energias vitais. A constância monótona da respiração ou da circulação do sangue é reproduzida na estrutura temporal dos vídeos, onde pequenos fragmentos de tempo são repetidos infinitamente, não chegando a constituir uma narrativa. O próprio movimento das figuras é às vezes quase imperceptível, fazendo com que duvidemos se aquilo que estamos vendo é uma imagem captada por uma câmera de vídeo ou uma fotografia. De fato, um dos trabalhos anteriores consistia justamente na apropriação de uma fotografia de Irvin Penn. Discretamente alterada no computador apenas para conferir à figura um aspecto andrógino, a imagem projetada na parede parecia, num primeiro momento, estática. Mas um olhar mais atento e prolongado, revelava um suave movimento na parte superior das costas dessa figura deitada de bruços sobre uma cama. Uma fotografia viva, que respira. No vídeo apresentado no Paço das Artes, há também uma confusão de referenciais. Combina uma paisagem construída integralmente no computador com a imagem gravada de uma pessoa que se movimenta para frente e para trás num balanço, imagem virtual e imagem captada. O que se ouve é apenas uma batida rítmica, o coração. Mais uma vez há a repetição, no loop de imagens e sons. Ao suprimir elementos característicos da linguagem de vídeo como o movimento, o corte e a narrativa, Leandro Lima e Gisela Motta criam um trabalho silencioso, que requer um olhar demorado, para trazer à tona as funções vitais do corpo “natural” em constante embate com os meios “artificiais” de reprodução de imagens. 
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