Visitação
20/12/2000 a 28/01/2001
A artista apresenta um conjunto de 43 retratos de crianças que serão dispostos linearmente em uma sala com paredes negras. No entanto, neste caso, devemos nos afastar de todas as ideias pré-concebidas sobre o que é um retrato e, especialmente, um retrato de criança.
Alexandra Pescuma conta que a primeira vez em que abordou a questão da infância em seu trabalho foi em um trÃptico realizado em 1999. Cada uma das três imagens mostrava o corpo de um bebê banhado numa luz azulada; uma corda exageradamente brilhante atando uma mão a outra, e um pé ao outro, formando um conjunto de linhas que desenhavam polÃgonos de luz branca contra um fundo noturno. A crueldade dessas fotografias indicava, desde o princÃpio, que este não seria um tema fácil. Ao contrário, há algo de perturbador que desvia essas imagens da tradicional visão da infância como um perÃodo idÃlico da vida.Na Temporada de Projetos 2000, Alexandra Pescuma mostrará um conjunto de 43 retratos de crianças que serão dispostos linearmente em uma sala com paredes negras. No entanto, neste caso, devemos nos afastar de todas as ideias pré-concebidas sobre o que é um retrato e, especialmente, um retrato de criança. Longe de conferir uma singularidade a cada um deles, a artista aplicou a mesma pintura – uma tÃpica maquiagem de palhaço – sobre cada um dos rostos fotografados, fazendo com que, meninos ou meninas, mais novos ou pré-adolescentes, formem um conjunto uniforme. A única coisa que podemos afirmar é que são crianças, ainda que possuam um aspecto terrivelmente fantasmagórico, obtido por meio de uma técnica de inversão de cores. Com seus olhos vazios sobre o fundo escuro, elas se aproximam mais de criaturas cegas ou sem vida do que daqueles pequenos seres cuja energia parece infindável. O que se revela, então, é algo que faz parte da experiência cotidiana de qualquer brasileiro, e que se tornou tão banal que quase não enxergamos mais: a crescente situação de abandono em que se encontram as crianças no Brasil e a consequente privação de seu direito à infância. Forçadas por diferentes razões a ingressarem no mundo adulto, elas assumem vários papéis: viciados, trombadinhas, vendedores, mães, putas … Contudo, o trabalho de Alexandra Pescuma não é apenas o espelho dessa situação. Existe nele uma tentativa, ainda que artificial, de recuperar um pouco do caráter lúdico da infância pela aplicação da pintura sobre os rostos. Ou ainda, talvez esta seja uma maneira de nos fazer lembrar que todos esses meninos-viciados-vendedores-trombadinhas-mães-putas, que nos assustam nos cruzamentos e morrem incógnitos nos hospitais públicos, continuam sendo crianças.