Visitação
03/03/2009 a 05/04/2009
A instalação Rakugaki que, em japonês significa rascunho, rasura, preenche quatro paredes com desenhos que usam variados suportes. O trabalho pretende mostrar que não existe certo e errado quando se trata de desenho livre.
Para a Temporada de Projetos do Paço das Artes 2009, o artista paulistano Claudio Matsuno propõe em —Rakugaki— (palavra em japonês para rascunho, rabisco) uma experiência a partir de sua vivência e pesquisa referentes ao desenho. Sua atenção está na técnica, mas, sobretudo, no modo como o observador se relaciona com essa mesma técnica a partir das imagens feitas à mão sobre uma superfÃcie. Se a pintura teve todo o século XX para reeducar a percepção das imagens sobre tela – ampliando seu vocabulário e abolindo a relação direta entre belo e bom – o desenho, confortável em seu papel de coadjuvante para a pintura, se situa (as exceções servem para ressaltar as regras) em um ancestral limite. A ideia de —perfeição— serve ainda como âncora. O desenho correto é o desenho perfeito, reproduzindo a realidade de forma exata ou perseguindo, em sua abstração, o equilÃbrio sobre a superfÃcie.O que interessa a Claudio Matsuno com —Rakugaki— é trabalhar as linhas de um desenho e seu modo de exibição a partir de um outro ponto de partida: o de que um desenho se faz a partir do processo de sua construção. Assim, o rabisco, o rascunho, deixam de ser a parte maldita (o escondido, o não-visto, o jamais observado) para se tornar a própria essência do desenho. Tudo o que a educação artÃstica clássica procura negar — porque a entende como defeito, vacilação, engano — Matsuno aceita como trajetória, caminho e processo. Assim, suas imagens continuam como —desenhos de observação—, mas o que ele vê não é um objeto ou uma cena. Matsuno observa uma sensação, e de modo intenso, diferentes atmosferas criadas por ela.Para —Rakugaki—, as paredes serão montadas no espaço expositivo do Paço das Artes, ocupadas por desenhos que ignoram qualquer exigência de narrativa, psicologia ou pathos, realizando, assim, a instalação. Seus desenhos compõem um todo, mas cada uma das peças que o formam é ainda algo inacabado. O interesse de Claudio Matsuno é – a partir de todas suas estratégias frente ao desenho, sua técnica e história – pensar e viver o traço sobre o papel, capturar o momento no qual tudo pode ser possÃvel, fazendo com que seu projeto seja o de conseguir criar e produzir sempre nesse campo da possibilidade: onde o risco livre não é e nem representa a desarmonia sobre o papel, mas se torna o ponto inicial, ou final, de uma intensa relação entre a criação e o mundo.