Pool

Visitação

23/02/2003 a 23/03/2003

A artista revisita fotos (negativos revertidos em slides que, projetados em uma parede, ela re-registra em vídeo) de um domingo ensolarado, mas inverte a lógica dos suportes fotográfico e fílmico: condensa a narratividade da foto, faz o filme esconder mais do que o registro instantâneo.

Dentro e fora disputam luz e opacidade no filme “pool”, de Jessika Miekeley. No fundo da água corpos brilham, enquanto no entorno da piscina figuram espectros humanos esmaecidos. Uma das questões aqui, fica claro, é a memória. A artista revisita fotografias (negativos revertidos em slides que, projetados em uma parede, ela re-registra em vídeo) de um domingo ensolarado, mas inverte a lógica dos suportes fotográfico e fílmico: condensa a narratividade da foto, faz o filme esconder mais do que o registro instantâneo. 

Antes de se fazer a pergunta “como pode um filme revelar menos de uma história do que uma foto?”, basta pensar em David Lynch, um dos principais interesses estéticos de Jessika Miekeley. “Pool” revela menos porque fragmenta as informações, porque é silencioso, e porque, das 19 cenas que costura, apenas três são feitas com a câmera em movimento. Trata-se de um anti-filme, uma vez que instaura uma anti-temporalidade, uma anti-sonoridade e um anti-movimento. 
A preocupação da artista, ao longo de seus mais de dez anos de trajetória, é como abordar uma cena fazendo reativar determinada memória. Instantâneos de família e auto-retratos imaginários são sua temática desde as primeiras pinturas, no início da década de 90. Quando migrou para as “novas mídias”, a artista apenas aprofundou a possibilidade de a arte ser uma narrativa póstuma, a construção de uma nova história para um evento já ficcionalizado. 
“Pool” é tanto uma alegoria da psique da autora quanto uma memória pessoal que ela quer reativar. “Sempre me interessei pela representação da subjetividade, mas sempre preocupada em retirar o que havia sido dito. Minha prática então voltou-se à busca de uma metodologia do desapego. Entendo a obra como evidência e testemunho da produção artística subjetiva”. Em “pool”, a fotografia é testemunho e o filme é evidência. O que o filme de Jessika Miekeley evidencia são as conotações enevoadas do domingo ensolarado: medo, perda, isolamento.
Jessika Miekeley foi artista convidada para a Temporada de Projetos 2003
Governo do Estado de SP