Visitação
24/04/2007 a 20/05/2007
Jorge Menna Barreto apresenta uma vÃdeo-instalação da série Lugares Moles — pesquisa sobre o amolecimento da noção de lugar na contemporaneidade. O artista constrói arquiteturas instáveis com tabletes de manteiga, onde pequeninos bonecos figuram nas cenas.
Ele pode ressaltar um aspecto da obra, fornecer elementos fundamentais à sua leitura ou apenas descrevê-la objetivamente. Se em alguns casos o tÃtulo do trabalho cumpre uma função, digamos, mais burocrática, em outros é capaz de apontar relações e sugerir possibilidades de aproximação. Lugares Moles — nome dado à série de vÃdeos e fotografias que Jorge Menna Barreto apresenta no Paço das Artes — é um desses tÃtulos sugestivos. Em primeiro lugar, pela imagem que a expressão evoca. Em segundo, porque é formado por palavras caras ao vocabulário do artista. à de lugares cada vez mais moles que suas obras se constituem.Embora marcada pela diversidade de temas, linguagens e suportes, a trajetória de Jorge revela um procedimento comum. Suas obras respondem a contextos. São concebidas a partir de um lugar ou situação especÃfica, cujas propriedades vêm se tornando cada vez mais vaporosas. Moles, por assim dizer. Em um de seus primeiros trabalhos, o artista tomou como ponto de partida o espaço expositivo. Construiu formas que se relacionavam com as dimensões fÃsicas da sala. Logo, a noção de lugar foi incorporando outras camadas. Na 7.ª Bienal de Havana, por exemplo, foi o —espaço disperso— da exposição — o fato de o público ter que circular entre vários locais para visitar a mostra — que o inspirou. Seu trabalho consistiu na distribuição de sacolinhas de papel carimbadas com o peso total dos visitantes, recalculado a cada entrega.Em Lugares Moles, a idéia de lugar também exerce um papel fundamental, mas a operação poética em jogo aqui já não é mais a mesma. Em vez de responder a um contexto, o trabalho parte da criação de um. O artista seleciona bonecos em miniatura — como aqueles utilizados em maquetes — e oferece a eles um cenário inesperado: tabletes de manteiga. A composição frustra uma certa —expectativa de lugar— trazida pelos personagens, que carregam consigo o que se pode chamar de —contexto identitário—. O homem de terno e gravata, por exemplo, sugere uma cidade como cenário. Já os sujeitos sentados no banco, uma praça ou estação de trem. à desse desencaixe entre os ocupantes e a paisagem ocupada que surgem as atmosferas absurdas e sedutoras de Lugares Moles. Exageradamente plásticas, elas tiram todo o proveito do material. As fotos revelam um cenário revolto, retorcido, submetido à s mãos do artista. Já os vÃdeos registram o desmanche progressivo da arquitetura de manteiga. Aquecida por uma lâmpada, a massa amarela engole os personagens pouco a pouco, numa narrativa cuja tensão é potencializada pela lentidão da cena. Tudo acontece muito devagar. Tanto que à primeira vista temos a impressão de estarmos diante de um still. à preciso desviar os olhos da imagem para, dali a pouco, numa segunda mirada, perceber as sutis transformações protagonizadas pela manteiga. Isto porque não são os personagens que atuam em Lugares Moles, mas o lugar. à ele quem tensiona a cena. Além do tempo, é claro. Não por acaso os vÃdeos da série são intitulados apenas com a sua duração em minutos. Mais uma vez, a estratégia de nomeação ressalta um aspecto importante da obra: o papel do tempo na (de)composição do trabalho. Outro tÃtulo que pode funcionar como um belo ponto de partida para se aproximar de Lugares Moles.