Interiores

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13/07/2010 a 29/08/2010

Ana Elisa Egreja apresenta Interiores, série de oito pinturas de grande formato em que a função do elemento decorativo é posto à prova por meio do conceito de colagem. O resultado são pinturas a óleo que reproduzem diferentes padrões, como rendas e azulejos, animais e cenas.

A artista Ana Elisa Egreja, 26, vem discutindo há cinco anos os limites da pintura decorativa através da reprodução de diferentes padronagens em óleo sobre tela, suporte com o qual trabalha incessantemente. Suas inspirações e referências nascem das fontes mais diversas: rendas Chantilly francesas, azulejos hidráulicos cubanos e sua paixão e atração pela beleza dos animais, para citar algumas. Destas pinceladas surgem relações harmônicas e sem hierarquias entre fundo e figura, em composições caracterizadas pela ideia da colagem, ou da sobreposição. A série Interiores, apresentada na Temporada de Projetos 2010 do Paço das Artes, é um desdobramento de sua evolução como artista desde 2001. Patchwork Pictórico foi apresentada em 2006, seguida de Gaiolas (2007), Natureza Morta (2008), Hunting Dogs (2009) e Interiores (2010).Em exposição no Paço das Artes, está o resultado de uma importante renovação em seu processo criativo, que teve início em 2009, resultando em uma verdadeira evolução na sua obra final. A partir daí, a artista começou a projetar suas pinturas no computador, recortando e colando imagens e fundos com mais liberdade, e trazendo novas soluções estéticas para sua obra. Frequentemente, os bichos são vistos em primeiro plano, e uma estampa como fundo infinito, no segundo. Uma terceira dimensão cria ambientes através do programa After Effects, com sombras simulando espaços estampados pouco definidos. Ela procura a cena “ideal”, que nasce de inúmeras sobreposições que compõem a tela final. Estas são fruto de pesquisas feitas em redes sociais que caracterizam sua geração, como o Flickr, onde insere palavras muitas vezes desconexas e aleatórias entre si como “coincidências”, —œweird scene” e “bears”.”Não tenho consciência dos motivos da minha forte relação com animais”, conta. Em sua primeira série, Patchwork Pictórico, pintar animais na tela, no caso pássaros, “tinha a ver com a beleza deles”. Com esta descoberta, “deu-me vontade de pintar aquelas penas, aquelas cores que estavam presentes”. Para Ana Elisa Egreja, tal caminho é “linear”. É por isso que primeiro vieram os pássaros e, em seguida, os cachorros caçadores de pássaros, por exemplo. No entanto, a partir de Interiores os bichos também foram escolhidos por outro motivo, pois passou a ser preciso responder à sua vontade de criar pinturas com uma cor predominante. “O maior desafio é combinar cores e tons próximos de acordo com a cor base de fundo; por isso, tenho mexido bastante nas cores. Isso tem que ser resolvido na pintura”, explica. Seu desafio no futuro breve é o fundo do mar.O trabalho de Ana Elisa foi propagado através do reconhecimento do talento do grupo 2000e8, formado por oito jovens pintores residentes na cidade de São Paulo. A divulgação de seus trabalhos pela imprensa, consequentemente levando esses nomes para um público maior, também foi fator importante, principalmente através da matéria de primeira página no Caderno 2, Estado de São Paulo, em abril de 2008. No mês de agosto o grupo apresentou uma exposição coletiva no SESC Pinheiros, que também aconteceu em Florianópolis. No final do mesmo ano, foi premiada pelo Museu de Arte Moderna da Bahia.Ana Elisa Egreja usufrui da falta de compromisso que tem com a história da arte. Sem preconceitos, admite sua relação com imagens mundanas como fonte de inspiração, numa relação sem pudor com a sua pintura.–

A procura de ser a artista —œcerta—, por Duda Porto de Souza
Ana Elisa Egreja define seu trabalho como sua “versão do que é progredir”. E  complementa: “A arte como problema de viver”. Quais seriam seus problemas?  Mesmo quando retratando imagens mais lúgubres, pássaros mortos, algo quase  carnal, ela encontra o balanço entre extravasar seu “problema de viver” em pinturas altamente detalhadas e a liberdade de se expressar sem preconceitos. A isso ela precisa se manter fiel. 
Seu cotidiano é sua própria história de arte. Seu trabalho agrada aqueles que não são  do universo das artes plásticas não só pela beleza e escolha de temas. Cada tela transparece uma incansável batalha. Para aqueles que podem comprar, não basta olhar, é preciso ter. 
A série “Interiores”, apresentada na Temporada de 2010 do Paço das Artes é antes de tudo convidativa. Os que agora vêem seus novos trabalhos, onde a imagem está em  terceira dimensão, falam “como mudou”. A artista está longe de ter mudado. Suas primeiras referências eram os livros de natureza de seu irmão mais novo, e continuam sendo. Se o século XX foi de grandes descobertas para o que vivemos agora, o século XXI nos deu as ferramentas para fazer algo frutífero com elas, e nossa artista usufrui de todas. O trabalho de Ana Elisa não é apenas uma evolução, mas também uma revolução, que ela generosamente nos entrega.
Duda: Diversos críticos falam da sua falta de compromisso com a história da arte na hora de produzir suas obras. Tudo parece mais leve, no melhor dos sentidos. Qual é a sua leitura disso?
Ana Elisa: Durante a faculdade tentei me comprometer com a arte, e não deu certo. Eu só consegui assumir a pintura como linguagem quando eu comecei a fazer escolhas mais verdadeiras. Arte e vida são desassociáveis. Por exemplo, gosto tanto de um Vermeer quanto de um bolo de morango. Talvez dizer “falta de compromisso com história da arte” seja uma outra maneira de dizer “excesso de compromisso” com  outros elementos da vida que não são comuns a pintura, como moda, cenografia e decoração. 
Duda: Há um pouco de tudo que torna seu trabalho um sucesso. Porque você acha que ele foi tão bem aceito? 
Ana Elisa: O que é um sucesso para uns, pode ser irrelevante para outros. Sinto a mesma reação de todos que amam a minha pintura: desejo. 
Duda: “O que faço é minha versão do que é progredir. A arte como problema de viver—¦”. Fale um pouco mais dessa sua frase tão saborosa. (Convido a todos a olharem imagens do trabalho da artista novamente antes de ler a resposta abaixo). 
Ana Elisa: Essa frase continua, da maneira que vocês quiserem. Para mim o progresso é evoluir na pintura. Parafraseando Giacometti, sempre há progresso na pintura, mesmo quando as coisas vão mal. O evoluir é simplesmente fazer.
Duda: O que existe de mais significativo na sua pesquisa artística? Na sua pesquisa  de vida? 
Ana Elisa: Minha pesquisa artística hoje é a parte técnica. Dar aos materiais que pinto a mesma textura que eles têm na vida real. A união está presente na relação com os animais, pois fora da hora de pintar estou pesquisando-os na internet.
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