Visitação
03/03/2009 a 05/04/2009
Horizonte Discreto é uma instalação cujo funcionamento se baseia em instrumentos que registram, simultaneamente, a temperatura e a umidade relativa do ar ambiente em uma carta gráfica, ainda utilizada em museus para calibrar a climatização dos acervos.
Dentro de uma caixa móvel, construÃda em madeira clara e acrÃlico transparente dobrado, acondicionada num estojo de descanso de espuma recortada, está a máquina de desenhar de Luciana Ohira e Sergio Bonilha. A maleta transportável – que confere o status de —hardware— a seu mais recente projeto artÃstico – marca presença também nesta exposição como uma seta simbólica dos artistas-viajantes para suas participações em exposições coletivas e individuais no Brasil e exterior. Como um relógio de parede aberto – com pequenos contrapesos torneados mecanicamente em bronze – entreolhamos um motorzinho à corda que faz a máquina de desenho funcionar.Aparelho de conservação museológica que controla graficamente a umidade e a temperatura – destes que se vê corriqueiramente em cantos de sala de exposição – um entintado —termohigrógrafo— faz analogicamente as vezes da mão do artista desenhando direto sobre a parede. Tal resultado na formação de linhas excelsas – que se entrecruzam de acordo com a oscilação ambiental gerada por um sistema mecânico simples – exige calibração precisa para que a máquina não pare e continue desenhando como objeto portátil atrelado à paisagem de si mesma.Ao tornar público os croquis e as provas de design de —horizonte discreto— na primeira exposição da Temporada de Projetos 2009 do Paço das Artes, Ohira e Bonilha abrem uma clareira ao compartilhar suas descobertas empÃricas com o visitante. A bússola com a qual desejam nos orientar em relação à sua obra talvez seja a de uma busca valente por outros caminhos em meio à erosão do mundo: a uma direção descomplicada e sem melindres, onde materiais aparentemente obsoletos – como uma placa espiral de bimetal – possam ser transformados em um termômetro ou um super Ãmã que experimentalmente trabalhe com força de um motor magnético que atiça a invenção comum dos referidos artistas.Olhando para a parede esperamos morosamente a aparição do desenho. Ao longo da lógica do realismo capitalista, o trabalho desta dupla tem o mérito de afastar-nos dos clichês da cultura de consumo rápido. O tempo difere do que é desenhado com as mãos.Mas talvez possa se acelerar de repente à mercê da temperatura do vento e da água no entorno. O —horizonte discreto— é criado sob os efeitos de erro e acerto da ocupação fÃsica da máquina como passatempo.