Visitação
09/02/2004 a 07/03/2004
Mariussi mescla linguagens como a cinematográfica e teatral.
Qual é a melhor maneira de questionar a arte contemporânea, senão utilizando ela própria? à isso que o paranaense Luciano Mariussi vem fazendo nos últimos anos, valendo-se do vÃdeo como fonte desencadeadora desse questionamento. Dentro desse contexto, entre 1999 e 2002, realizou os vÃdeos Jogo para jogador inepto, Não entendo e Estética.Na presente videoinstalação — Entre (2002) — Mariussi mescla linguagens, como a cinematográfica e teatral. à o artista quem dirige a cena, emprestando o papel do diretor de cinema, embora o roteiro tenha sido criado em conjunto com os atores, colaboradores do projeto de Luciano. Nessa proposta, Mariussi também investe em trazer à tona alguns temas que rondam a arte atual, como, para citar um exemplo, o lugar do artista contemporâneo: quem ele é, qual á a sua função e que papel deve desempenhar.Ao entrar na sala da videoinstalação Entre, o público depara-se com quatro imagens de pessoas em tamanho natural, projetadas uma em cada parede. Essas pessoas (atores) conversam com quem está na sala em tom hostil. Indagam, por exemplo: —O que você está fazendo aqui?— Ou dizem coisas do tipo: —Isto não é lugar para você! Isto aqui é arte!—Com esses insultos, Mariussi desperta na espectador duas reações possÃveis: repulsa imediata ou atração provocada pela curiosidade e indignação, fazendo com que o visitante hesite quanto a entrar ou não. E mais: Luciano motiva o espectador a se perguntar o que faz em um espaço no qual, teoricamente, não está autorizado a entrar. A ideia central de Entre reside justamente em perscrutar como se dá a relação entre o visitante e o espaço de arte, em tese, proibido.Como escreve Thomas McEvilley, no livro “No interior do cubo branco”, de Brian O—Doherty: —Nas galerias modernistas tÃpicas—- assim como nas contemporâneas, vale complementar -, —como nas igrejas, não se fala no tom normal de voz; não se ri, não se come, não se bebe, não se deita, nem se dorme; não se fica doente, não se enlouquece, não se canta, não se dança, não se faz amor—.O próprio O—Doherty questiona-se, logo nos capÃtulos iniciais desse livro, sobre: —Quem é o Espectador, também chamado de visitante, à s vezes chamado de Observador, ocasionalmente de Percebedor?—. E reflete sobre o seu comportamento diante de uma obra de arte: —Ele se inclina e pondera; é um pouco inábil. Seu comportamento indagativo; sua perplexidade, prudente—.Postas essas questões, cabe ressaltar que, com Entre, Luciano Mariussi coloca em jogo as discussões mais cruciais ao redor das funções, do uso e do lugar da arte contemporânea. Discussões que não cessam, apenas crescem e ainda carecem de reflexões.