Co-movere

Visitação

21/08/2012 a 13/09/2012

Paço das Artes recebe a instalação vídeo-sonora e site specific Co-movere, de Marie Ange Bordas; trabalho relata a experiência de 6 anos da artista vivendo entre pessoas que tiveram suas vidas dramaticamente alteradas por eventos alheios à sua vontade

No dia 20 de agosto, às 19h30, acontece a abertura da instalação site specific e videossonora Co-movere, obra de Marie Ange Bordas com curadoria de Christine Mello. O trabalho, que relata a experiência de 6 anos da artista vivendo entre pessoas que tiveram suas vidas dramaticamente alteradas por eventos alheios à sua vontade, fica disponível para visitação gratuita na sala de vídeos do Paço das Artes (Paço para Ver) e no Espaço do Quadrado até o dia 13 de setembro.Leia o texto curatorial de Christine Mello em colaboração com Marie Ange Bordas.Co-movereMarie Ange Bordas (Porto Alegre, 1970) é uma artista que atua entre práticas históricas, antropológicas e jornalísticas. Tem se concentrado nos últimos dez anos na criação de projetos artísticos colaborativos e dialógicos, sobretudo em comunidades deslocadas e/ou afetadas por conflitos em países africanos e em comunidades tradicionais no Brasil. Debruçando-se sobre temáticas sócio-políticas (zonas de conflito, campos de refugiados, deslocamentos, migração) e paradigmas existenciais (memória, identidade em trânsito, perda, vulnerabilidade x sobrevivência), Marie Ange busca articular experiências próprias e implicações sociais. A maioria de seus projetos são desenvolvidos a partir da convivência prolongada nestas comunidades e na proposição de dinâmicas criativas – pessoais e coletivas – que resultam na criação de ambientes instalativos, fotografias, vídeos, paisagens sonoras e livros.Em Co-movere, a artista gera a noção de uma história paralela ao associar o campo da história ao campo onírico. Como uma forma de lidar com aquilo que é apagado dos discursos oficiais, confronta narrativas testemunhais a fabulações. Faz isso no intuito de oferecer outros modos de sermos colocados em contato com situações de violência, memória e trauma. No limiar entre o estabelecido e o que pode ser dito, promove a saída do silêncio – e da dor por ele provocada – por meio principalmente da sensorialização escrita e da polissemia sonora do espaço. No latim, o sentido primeiro de commovere é o de mover juntos, mobilizar. Em um sentido expandido significa também tanto afetar (de afeição) quanto agitar violentamente, incitar à ação. Este ensaio, composto por dois trabalhos, resulta dos transversamentos destes significados, subjetivos e políticos, na prática artística de Marie Ange Bordas e na sua convivência com pessoas forçadamente deslocadas na última década. A partir da resignificação de testemunhos (e afetos) criados e coletados junto à convivência com pessoas submetidas a estarem em trânsito —“ por tempo indefinido e de modo avassalador – o trabalho questiona o quanto do que sentimos é condicionado por nossas visões do mundo, e o quanto estas visões afetam a própria existência do afeto, da capacidade de sermos (co)movidos pelo outro. Afinal, como vemos? Como estratégia de sobrevivência —“ na promoção de sentido onde o horror e o não sentido, o esquecimento, imperam —“ Bordas transfere ao documento da catástrofe o tempo da narrativa, o discurso artístico, não estabilizado, permeado pelo contato próximo, íntimo, como possibilidade de reinvenção do modo de vermos, de produzirmos linguagem e de termos acesso ao outro. Restitui, dessa maneira, o incomensurável, o indiscernível, aquilo que está à margem, o sujeito e sua capacidade de ter história. Opera de modo a misturar seus próprios fragmentos de memória com as memórias de cada um que está em contato. Tanto os que estiveram anteriormente em contato, como os que vivem em campos de refugiados, como o público que participa em tempo presente da experiência artística.A partir desta abordagem, foram ocupados dois espaços do Paço das Artes, configurados de modo dissociativo. No primeiro deles, o Espaço do Quadrado, constituído como um site specific, a artista simula um quarto de acolhida, onde os percursos por ela realizados – ao longo da década de 2000 – se desvelam através de cartas, álbuns, imagens, anotações, notícias, extratos documentais e subjetivos que se intercalam. O segundo espaço, a sala de vídeos do Paço das Artes (Paço para Ver) abriga uma cama, travesseiros, parcas luzes e uma instalação sonora composta por documentos e ficções, ruídos e silêncios que refletem e ecoam estratégias sutis e delicadas para sobreviver o indizível.

Marie Ange Bordas (www.marieangebordas.com) é artista multimídia, pesquisadora e educadora, mestra em Imagem e Som na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com especialização no International Center of Photography em Nova York como bolsista Capes/APARTES e em Refugee studies pela Universidade de East London na Inglaterra. Seu trabalho foi apresentado em diversas exposições individuais e coletivas no Brasil, Costa Rica, Venezuela, Estados Unidos, França, Espanha, Holanda, Portugal, Polônia, Mali. Participou de residências artísticas internacionais e coordenou projetos artísticos e educativos na Colômbia, Grã-Bretanha, Quênia, Áustria, África do Sul, Etiópia, República Checa e Sri Lanka. Entre 2007 e 2011 foi nominada para o Prêmio Pictet de fotografia, o Prêmio Internacional KLM/Paul Huf e foi agraciada com os Prêmios Interações Estéticas e Circulação Literária do Ministério da Cultura e Proac/São Paulo para publicação. É autora dos livros Deslocamentos (Fumproarte,Brasil), Diário de Bordo (Prince Claus Fund-Holanda/Colombia), Histórias da Cazumbinha (Companhia das Letrinhas/Brasil) e Manual da criança caiçara (Ed.Peirópolis/Brasil).

Christine Mello é crítica, professora, pesquisadora em arte e pós-doutora pelo Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicação e Artes (ECA), da USP. Se dedica a projetos curatoriais relacionados à arte contemporânea, além da observação, acompanhamento e leitura crítica de artistas multimídias. Seus projetos incluem a representação brasileira de net-arte na 25ª Bienal Internacional de São Paulo, exposições em museus, galerias e festivais brasileiros e internacionais.CO-MOVEREAbertura dia 20 de agosto, segunda-feira, às 19h30Visitação entre os dias 21 de agosto e 13 de setembroTerças a sextas das 11h30 às 19hSábados e domingos das 12h30 às 17h30Grátis
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