Bruno Vieira

Visitação

14/03/2005 a 01/05/2005

Artista aclimatado à “aldeia global”, acostumado a chegar aos lugares precedidos por sua obra, Vieira desfruta confortavelmente da outra máxima de MacLuhan, “o meio é a mensagem”.

Quem for à exposição de Bruno Vieira, no Paço das Artes, não vai encontrar trabalho algum dele. Os encontros com a produção do artista não se dão com hora marcada: costumam ser fortuitos, casuais, e, às vezes, passar despercebidos. Você não visita uma obra de Vieira, é a obra que visita você. Você não assimila uma obra dele, é contaminado por ela sem nem perceber. Todas as peças expostas no Paço foram concebidas para outros meios e têm uma ligação orgânica com estes meios. Daí não serem, nas palavras do artista, mais que cópias pálidas do trabalho em si.

Originalmente uma ação pensada para a Internet, a série Desaparecidos é constituída de vários cartazes com fotografias e números de telefone. Como em trabalhos anteriores, Vieira opera aqui com o vocabulário da rotina urbana, embaralhando seus elementos de forma a desrotinizar a leitura que as pessoas fazem da cidade. Todos os “Desaparecidos” são apresentados de costas e consta sempre apenas o primeiro nome de cada um. Pablo, Auguste, Toulouse, José, Mira, Anita, Iberê. Para quem não fizer a ligação imediata com a história da arte, o número para informações termina de dar o recado.
Uma longa lista de destinatários de e-mails recebia regularmente, em meados de 2003, alguns cartazes por semana, até que se constituía na memória (do computador e/ou da pessoa) um número assustador de pessoas desaparecidas, um acúmulo de nucas, nomes e datas a provar a força do tempo e da história. As mensagens eletrônicas vinham sem maiores esclarecimentos e podiam ser “lidas” das mais diferentes maneiras, como brincadeiras de mau gosto ou um elaborado acerto de contas. Enquanto isto, levado a cabo por mais de um ano, o projeto ia ganhando notoriedade em todo o país.
Artista aclimatado à “aldeia global”, acostumado a chegar aos lugares precedidos por sua obra, Vieira desfruta confortavelmente da outra máxima de MacLuhan, “o meio é a mensagem”. Desaparecidos e o vídeo Ninguém  está a salvo… poderiam ter outro conteúdo qualquer, mas, independente daquilo sobre o quê falam, são instrumentos de distúrbio eletrônico, porque foram concebidos para invadir caixas postais e circular de forma endêmica.
No caso da série Invasões, de novo o “meio” primeiro em que o trabalho se desenvolveu é outro (e alheio ao espaço asséptico da instituição de arte): trata-se de uma intervenção urbana, cujos efeitos de contaminação do entorno nos escapam ao vermos a sequencia no museu. As cenas, captadas por webcam, de Ninguém está a salvo… em princípio seriam devolvidas a seu meio, competindo com a oferta de imagens da Internet. A gestualidade frenética do artista remete-nos ao contato desorganizado com o turbilhão de informações que invade a vida pela tela (seja da TV ou  do computador), e, no contato fugaz com o vídeo, escapa-nos o quanto naqueles gestos há de um elegante balé com as ideias. 
Governo do Estado de SP