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Paço das Artes apresenta CARNIÇA

Data

25/11/2016 a 05/12/2016

O Paço das Artes –instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo– lança no dia 3/12 o espetáculo CARNIÇA, de Danislau Tb, no MIS, onde está sediado atualmente. A entrada é gratuita.



CARNIÇA é o trabalho mais recente do vocalista da banda Porcas Borboletas, na estrada há mais de 16 anos. Paralelamente à carreira de músico, Danislau Tb tem atuado nas mais diversas frentes da pesquisa em torno da linguagem: lançou dois livros (“O herói hesitante” e “Hotel rodoviária”), escreveu e dirigiu algumas performances, foi colunista de jornal. Atua como professor e pesquisador de literatura.



O espetáculo é uma audioficção que apresenta a história de dois personagens, Carniça e Natanael, habitantes do submundo do crack. Ambos amam a mesma mulher, Doraluce. O conflito entre eles envolve a família, lideranças religiosas (pastores neopentecostais delirantes) e um apresentador de TV.



No palco, Danislau desenvolve a narrativa por meio de uma live performance em que interage com dez vídeos projetados numa espécie de cinema ao vivo e é acompanhado pela Carniça Band, que é formada por Nath Calan (vibrafone, bateria e percussão), Moita Mattos (guitarra) e Filipe Franco (teclados). 



Cada vídeo corresponde a um capítulo da história e as projeções são dirigidas por Caio Mazzilli e Filipe Franco (Panama Filmes).



O resultado é uma obra de arte sui generis, capaz de propor uma linguagem original e, ao mesmo tempo, jogar uma nova luz sobre a inadiável discussão a respeito do consumo de crack em nossas cidades.



O disco de CARNIÇA (independente) já está disponível em todas as plataformas digitais e estará à venda no dia da apresentação:



SERVIÇO

CARNIÇA | DANISLAU TB


QUANDO: 3/12 (sábado), às 20h

ONDE: Museu da Imagem do Som (MIS) —“ Auditório (170 lugares)

REALIZAÇÃO: Paço das Artes
ENTRADA GRATUITA
(36 minutos | 10 anos)



Paço das Artes no MIS

Av. Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo/ SP; tel.: (11) 2117-4777

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Depoimento do artista



—œEu morava no bairro Santa Mônica, em Uberlândia, e era vizinho de um monte de menino que vivia na rua, andando de um lado pra outro com aquele movimento malandro, arrastando o chinelo de lá pra cá, produzindo um som com a fricção das havaianas sobre asfalto. De vez em quando me deparava com a imagem da polícia dando uma geral nesses rapazes, ações cinematográficas, a estátua formada com o corpo de frente pra parede, as mãos na cabeça e as pernas abertas. Apesar de todo o problema social e tudo o mais, eu percebia a presença desses boys como um verdadeiro reinado. Coreografia eterna, construída como improviso. Na minha observação desse movimento, acabava sempre percebendo mais o estético do que a suposta desgraceira vivida por aqueles meninos e meninas envolvidos pela fumaça do crack.



Teve um dia em que eu e meu parceiro Ricardo Ramos comparecemos a um programa da televisão local. Programa ao vivo. Tocamos de improviso algumas canções, entre uma e outra notícia veiculada pelo programa. Nessas notícias, eu reconhecia os meninos do meu bairro. Entrando no porta-malas das viaturas policiais com o rosto encoberto pela camiseta. Eu estava ao vivo, com uma guitarra na mão, muito perturbado – carisma zero – observando o contraste entre essas duas imagens: a primeira, dos meninos reinando na rua, curtindo gloriosamente a liberdade; a segunda, a dos meninos na TV, gestual de animais encurralados. Percebi que uma imagem não tinha muito a ver com a outra.



Daí pra fazer o Carniça foi um pulo. Gravei o material sozinho, no meu home studio, incorporando epifanicamante os personagens que vinham surgindo. Essas duas imagens aparecem no disco: o Carniça das ruas e o Carniça apropriado pelo jornalismo sensacionalista. Qual imagem corresponderia à realidade? Acho q nenhuma das duas. Talvez, no fundo, o que o disco queira levantar seja uma outra questão: até que ponto é possível conhecer alguém?”



MARCÍLIO LUCAS, professor de Sociologia, comenta o CARNIÇA



“Ao se deparar com CARNIÇA, o que pensar que vem por aí? Melhor nem tentar adivinhar: Carniça vai te pegar despreparado de qualquer maneira. Neste trabalho, permanece um traço marcante dos trabalhos de Danislau: a vivacidade ao absorver o eterno do transitório, o poético do histórico. Seu foco na trivialidade mundana faz aparecer os lugares onde a história real é feita, antes de ser representada. Postos de gasolina, barracos mal arrumados, lanchonetes semiabandonadas, pátios de escola e as ruas da cidade. Eis os locais que Danislau costuma percorrer, eis a matéria prima que costuma deglutir, para nos fornecer um conjunto de imagens envolventes, por serem, ao mesmo tempo, claras e inebriantes.



Danislau nos apresenta a sujidade das ruas, mas não o faz por meio de uma apologia da escória. Ele não embarca na marginalidade convencional de simplesmente afirmar a —œbeleza do sujo—. O autor de CARNIÇA é mais engenhoso e, a partir desse ambiente pesado, consegue nos brindar com imagens marcantes, revelando a sensibilidade de alguém para quem nada que é humano é estranho. Como bom —œhomem do mundo—, no sentido baudelairiano, Danislau é apaixonado pela compreensão sutil do mecanismo moral que nos rodeia. E, para tanto, em CARNIÇA, vale-se da estratégia perspicaz de fazer poesia mostrando a miséria do mundo pela ótica particular de seu protagonista. Machado de Assis teve a grande de sacada de apontar o ponto de vista de um defunto como privilegiado, pois a sua posição além-vida garante o desprendimento, a franqueza e o desdém necessários para por à vista a mediocridade e as vacilações humanas. Danislau provavelmente não discordaria desse procedimento, mas nos oferece outro ponto de vista não menos estratégico: o do abjeto, o de Carniça, livre das hesitações geradas pelo medo de perder”.





LUIZ GABRIEL LOPES, compositor brasileiro, comenta o CARNIÇA



“audiolivro, radioarte, folhetim infanto juvenil. com seu infalível lirismo de rodoviária, destilado pelas estradas que ligam Uberlândia aos mundos interestelares & intraterrenos, Danislau ataca novamente como dramaturgo da pós música, germinando imagens sonoras de uma tragicómica narrativa encarnada na figura de Carniça, um fedorento anti-herói (alter ego?) que vagueia nas mãos de uma horda de caricatos algozes. numa trilha filiada aos Tubarões Voadores de Arrigo Barnabé e à chinesa videomaker de Fausto Fawcett, cruza de Haroldo de Campos com Sérgio Mallandro, Danislau cria um complexo híbrido imagético-sonoro, que ecoa os clássicos da Coleção Vagalume, as vedetes policiais da TV evangélica & os experimentos da eletrónica-punk-naif, com a eloquência de um desembolado literato de cursinho pré-vestibular. a professora do Charlie Brown encontra João de Santo Cristo num karaokê, rola uma química e não tem errada: Danislau é o rei da resenha, um Garrincha Leminskiano, bibliográfico & avacalhado na responsa. Epidérmico cronista dos imundos submundos de latinoamerica, nos presenteia nesse entre-formato com mais um golaço pra constar nos célebres autos de uma literatura tão vanguardista quanto misteriosa. damos graças! seja bem vindo Carniça: o seu destino é ser star”.



ENZO BANZO, compositor brasileiro, escreve sobre o CARNIÇA



“Danislau está nu. Só a carne. Só a Carniça. Quando tira a roupa, algo se revela. Danislau se revela. Em Carniça. Por completo. Na audioficção, Danislau conjuga a difícil equação de se abordar uma temática social. Sem cair no pieguismo, no didatismo, no ensinamentismo. Essa porcaria que está aí na nossa frente e para a qual, comumente, fechamos o olho, ou melhor, tampamos o nariz. A rasteira de Danislau é de forma e conteúdo, vai fundo. E, partindo do retrato social, chega na profundidade do humano. Por trás de Carniça está Luiz Henrique, está a criança, está a doce Doraluce.



O interessante de Danislau – e isso nasce com sua faceta de escritor – é seu poder de ser inventivo e comunicativo ao mesmo tempo. Danislau não fala de um outro mundo da cabeça do poeta. Fala desse mundo aí mesmo, que passa na rua, que passa na TV”. 
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