Visitação
08/12/2008 a 04/01/2009
Exposição dos formandos de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 2008.
A sentença de morte é uma declaração da impossibilidade de resgatar o crime com qualquer outro bem, que não a própria vida. O que de hediondo fez, portanto, a arte?Demonstrou que o tempo não é uma grandeza fÃsica, mas uma qualidade da cultura; que ele não reúne em unidades, mas desdobra em multiplicidades — que nada se perde. Que aquilo que chamamos de existente é, desse modo, um agenciamento, ato humano, que se costura e se esgarça. E também que o —modelo— já não goza de primazia para a expressão do pensamento.Que sentido tem a proposição hegemônica do fim de tudo? Parece antes tratar-se de uma falta de sentido ou de objetivo, como se os problemas aos quais correspondem os fundamentos da vida, por um milagre divino, tivessem deixado de existir ou de se atualizar. Tudo, então, já foi pensado, já foi feito, já foi sentido. Uma espécie de processo de banalização parece assaltar a existência. A natureza afirmativa de seu devir continuo é trocada pelo caráter negativo da obsolescência oclusiva, manifesto em máximos produzidos por julgamentos inconsistentes, que nada economizam na falta de alguma idéia realmente original. O intolerável é, pois, o estado constante de uma banalidade cotidiana.Para além dos ufanistas de qualquer época e contexto, que se regozijam e afirmam ao declarar sentenças de morte em tons proféticos, condenando à superação ou substituição, planos inesgotáveis do pensamento, estão aqueles que resistem à s palavras de ordem.Menos vinte um é a exposição de graduandos de 2008, do Departamento de Artes Plásticas, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. à um ato de resistência de jovens artistas e novos professores de artes, que se arriscam traçando planos no caos, atravessando descosturados, experimentando linhas de fuga. Sonham com paisagens impossÃveis, fabricando zonas de indeterminação. Fazem a visão existir pelo pensamento e o pensamento pelos seres de sensação. São menos vinte e um alunos presos na caverna escura e mais vinte e um iluminados videntes soltos na vida, lutando contra aquilo que a ameaça.Menos vinte um é a expressão de um desejo pleno, a que nada falta, de uma potencia de invenção, tanto quanto a afirmação de uma atividade criadora. Aà está manifesta uma força positiva que reage à fixidez da palavra de ordem e se opõe aos comandos da comunicação de massa da cultura estandardizada. Na via contraria das mortes anunciadas em grande estilo, expõe com naturalidade, em um variado conjunto de suportes, o ânimo amplificado do processo criador. Resiste a insistência de se reduzir a arte a satisfação de um mercado voraz.Ao final desta etapa de trabalho individual e coletivo, cujas alegrias e dores constituÃram estas obras expostas, os estudantes-artistas estarão irremediavelmente sós, mas numa solidão povoada, cuja luz persistente crescera como um sol que ilumina, tornando o caminho mais alegre e o corpo mais eficiente. Sem perder a gravidade, a cada sangramento, a carne pesara menos.A arte não só não morreu, como se apresenta com redrobado vigor.