Visitação
09/02/2004 a 07/03/2004
A artista se reapropria dos objetos fundamentalmente pelo tempo que ela passa ocupando-se deles, na tentativa de criar uma relação Ãntima e duradoura. Após a “ressurreição” para o mundo, os fragmentos são deslocados para o ambiente artÃstico.
Na ação Caminhada ao redor da casa, Cristina Ribas realiza percursos aleatórios de afastamento/aproximação de sua própria residência, enquanto recolhe objetos, como tijolos, pedras, pedaços de cerâmica, porcelana e toda espécie de refugo da cidade, que geralmente passaria despercebido. Em seguida dá inÃcio a uma espécie de catalogação, uma “falsa arqueologia”, que pressupõe o convÃvio com esses elementos. A artista se reapropria dos objetos fundamentalmente pelo tempo que ela passa ocupando-se deles, na tentativa de criar uma relação Ãntima e duradoura. Após a “ressurreição” para o mundo, os fragmentos são deslocados para o ambiente artÃstico. No Paço das Artes estão dispostos na forma de um cÃrculo de três metros de diâmetro, classificados do maior para o menor, como “memória da deriva”, protagonizada por Ribas. Ã preciso ressaltar que se trata de um trabalho em processo, passÃvel de ser realizado a qualquer momento e em qualquer lugar, incorporado ao cotidiano da artista, que, desta forma, esvazia a carga “aurática” da obra irreprodutÃvel. Outro trabalho desta exposição é formado por um conjunto de quatro páginas de um jornal diário paulistano, com anúncios de apartamentos. As folhas são iluminadas por trás, com luz fluorescente, criando uma sobreposição de frente-verso que embaralha as informações e abre caminho para relações de conteúdo inesperadas. As páginas são trocadas diariamente e as antigas vão sendo empilhadas no chão. Com base em um procedimento simples, mas carregado de ironia, Ribas questiona a maneira como uma cidade é compartimentada e comercializada. A posse individual de um determinado espaço fÃsico traz, embutida, a realização de determinados desejos, acena com um projeto idealizado de vida urbana e “garante” o futuro. Além de dialogar com a noção cÃclica de tempo-espaço, presente em Caminhada, a obra pode ser lida como crÃtica a um certo estilo de vida metropolitano.