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09/02/2004 a 07/03/2004
No vÃdeo A ponte, O tempo é circular e, se houvesse um princÃpio, ele estaria emendado ao fim; saiba mais
Na ponte mostra uma figura feminina em tons amarelados que nunca aparece se deslocando. A continuidade da ação é indicada apenas pela montagem de planos congelados. A metrópole apresenta-se imóvel, mas sons sugerem o trânsito. Dois componentes se integram: a passagem, acentuada pelos ruÃdos dos carros, e pura imobilidade. O sentido em que caminha a personagem nos escapa. Sua travessia parece nunca se encerrar devido também à estrutura do vÃdeo em loop, que impede uma narrativa convencional. O tempo é circular e, se houvesse um princÃpio, ele estaria emendado ao fim. Um precipÃcio parece interromper a conclusão do curto trajeto da mulher. Sobre o rio Pinheiros, uma ponte em ruÃnas, que liga nada a parte alguma, surge menos em seu sentido utilitário do que metafórico. Trata-se do próprio estado de mudança permanente. Fragmento que ainda resiste à s forças do tempo, esse escombro se espreme entre outras duas pontes bem mais modernas. Legado de um passado recente, remete tanto à ausência de estabilidade das construções humanas quanto à sua insistente permanência. Esse pitoresco signo do transitório é um dos resÃduos da nossa forçada e atropelada modernização.Os últimos trabalhos de Gisela Motta, feitos a partir da fusão digital de sequências de fotografia e vÃdeo, trazem em seu interior um duplo aspecto: são estáticos e se movem. As poucas ações das personagens registradas em vÃdeo estão em sintonia com a fixidez dos cenários fotografados. As cenas totalmente paralisadas, as várias tomadas da câmera e os cortes das imagens marcam o ritmo da série.Em outro de seus vÃdeos, a artista também apresenta uma edificação desprezada pela cidade: uma enorme casa abandonada. Nela, preso por grades de madeira, vive um estranho e absurdo personagem, uma figura decantada, como se fizesse parte do folclore e pertencesse ao nosso repertório. Trata-se de um velho com sobrancelhas tão longas que cobrem seus olhos e alcançam seus pés. A respiração ao fundo se aproxima da pulsação da própria casa, os suspiros da arquitetura e os seus se confundem, ou talvez não haja diferença entre eles. Há uma ligação estreita, acentuada pelo tratamento da imagem, entre essas construções e as personagens. Na verdade, é como se houvesse uma identificação entre ambas, como se as personagens assimilassem aspectos inusitados dos cenários e os exibissem como atributos seus. Estas construções quase fantasmas, onde o mato vagarosamente se infiltrou pelas frestas, flutuam na memória da cidade. Verdadeiros monumentos ao tempo. Mesmo ignoradas e tornadas invisÃveis, essas obras sobrevivem silenciosamente no tecido urbano. Indissociáveis das personagens, elas evocam uma parte esquecida e assombrosa da metrópole. Habitando nosso imaginário, pariam à espera de um olhar atento aos cacos de uma história ainda não escrita.