Visitação
06/07/2003 a 03/08/2003
Matheus opera com a noção de anti-design, caracterÃstica de locais de trabalho onde absolutamente tudo, da arquitetura aos objetos, é marcado pela assepsia e o desejo de estandardização, e onde cada ação humana é controlada e seus deslocamentos, predeterminados.
No filme Nouvelle Vague, de Godard, os personagens são forçados a se locomover, agir e se relacionar afetivamente em um dos ambientes mais padronizados, impessoais e, portanto, perversos que o homem ocidental criou: o escritório de uma empresa. Investindo sobre a traumática relação entre a subjetividade e esses espaços, Rodrigo Matheus tangencia questões semelhantes – e aqui podemos lembrar de outra referência vinda do cinema moderno: O Eclipse, de Antonioni. A obra apresentada no Paço das Artes é parte de um projeto mais amplo, que não começou agora nem será dado por concluÃdo com o fim desta exposição: Engeoplan é um conceito, mas também uma marca que se alimenta de estratégias empresariais para o desenvolvimento de produtos-obras, objetos que interferem na arquitetura dos interiores e questionam as verdades e mitos do design. Na verdade, Matheus opera com a noção de anti-design, caracterÃstica de locais de trabalho onde absolutamente tudo, da arquitetura aos objetos, é marcado pela assepsia e o desejo de estandardização, e onde cada ação humana é controlada e seus deslocamentos, predeterminados. Na Mesa Happy Hour, que tem por base uma tÃpica mesa para impressora, daquelas de fórmica cinza, o artista insere sobre um monte de plastiline branco uma “bolacha” para copos de chope e um cinzeiro, elementos de uma ordem diversa, a do prazer. A instalação que é exibida no Paço integra esta mesma série in progress: trata-se de um espaço para fumar, envolto em vidro fumê e placas de eucatex, habitado por 2 cinzeiros, 3 cadeiras, 2 exaustores e 1 ventilador. A luz é fria e as dimensões são reduzidas nesse lugar em nada sedutor, mais apropriado ao fumo nervoso dos escritórios ao meio-dia que ao cigarrinho relaxante do anoitecer. Ã fundamental observar que a obra não convida a fumar, apenas se coloca no espaço expositivo como uma situação dada e uma possibilidade real para o espectador. Instalação cuja proposta não é alterar substancialmente a ordem espacial do museu, mas ocupar seu lugar discretamente, de forma eficiente, no limite do que é permitido, tal como o “espaço fumódromo” tolerado nas empresas de hoje. A obra é então investida de forte carga polÃtica, e Matheus recarrega de sentido as relações de forma-conteúdo nesses sistemas já exauridos pela constante reiteração de seus significados mais Ãntimos.