Vestígios

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19/04/2000 a 07/05/2000

Explorando as possibilidades estéticas do claro/escuro, imediatamente identificadas na tradição da pintura pelas obras de Caravaggio e Rembrandt, nasce o que é velado e o que é revelado pela artista. O que vemos são vestígios, espectros e contornos deixados.

O ensaio fotográfico Realidades Meramente Superficiais integra a série Vestígios que a artista vem desenvolvendo desde 1998, no curso de mestrado da ECA/USP, inspirado no conto A Imitação da Rosa de Clarice Lispector. Do texto ficcional para o texto visual é feito o registro como se houvesse naquele mesmo instante um deslocamento do olhar, criando uma multiplicidade de planos e pontos de vista. As sete imagens dispostas espacialmente em semicírculo, ocupam a mesma disposição em que anteriormente estavam colocadas as sete câmeras de orifício. Câmeras que a própria artista constrói utilizando embalagens de produtos de mercado como batata frita, sabonete e band-aid. As embalagens, pintadas de preto, recebem ornamentos, nomes próprios e adquirem uma identidade. Cada câmera possui, portanto, características próprias – formato, distância focal, tamanho do orifício e ângulo – assemelhando-se ao funcionamento do olhar de cada um. Aqui, a manufatura obedece a uma lógica interna na reflexão, no processo e na resolução formal das obras: historicamente investe contra e criticamente sobre a pop art, a qual traz, dentre suas várias características, uma visão desalentada, passiva e não utópica da sociedade de consumo; no presente, investe contra os excessos cometidos pela imagem publicitária. 
Explorando as possibilidades estéticas do claro/escuro, imediatamente identificadas na tradição da pintura pelas obras de Caravaggio e Rembrandt, nasce o que é velado e o que é revelado pela artista. O que vemos são vestígios, espectros e contornos deixados pelo olhar da câmera e pela manipulação técnica da artista. Este elemento residual solicita do visitante um tempo para que a visão possa descobrir, na falta de cores e formas, as transições, mudanças e reações ocorridas de uma imagem para outra. No entanto, não se trata de um trabalho auto-referente, tendência tão comum na arte contemporânea. É, antes de tudo, uma reflexão sobre os conflitos universais da vida cotidiana – a solidão, a indiferença, as dúvidas de personalidade, a sociedade paternalista – que se traduz em amarguras, incertezas e devaneios. 
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