Leda Catunda

Visitação

25/11/1999 a 09/01/2000

Leda Catunda constrói suas obras a partir de um processo combinatório e de sobreposição de tecidos entrelaçados, recortados e pintados.

A Leda abriu sua mapoteca. E foi tirando, uns depois de outros, muitos dos muitíssimos papéis que guarda, ou guardava, lá dentro. Desorientados. E foi empilhando um a um os desenhos, colagens, aquarelas e gravuras sobre uma pilha de alguma outra coisa, na mesa. E mostrando e comentando as colagens, onde diversos divertidos personagens e imagens já prontos se misturam, assim como as texturas e estampas dos tecidos já prontos de suas flácidas ou volumosas telas. E cada vez que mal acabávamos de ver uma de suas colagens, sobrepunha uma próxima, e eu tentava olhar mais rápido. Desorientada, um pouco, por ver assim aplainadas muitas das coisas que pensava que só podiam ser feitas e vistas, ditas e ouvidas de telas, daquele veludo amarelo de ondas e outros tecidos. Costurados, armados, recheados, franzidos e sobrepostos. Agora, em papéis tão finos que cabiam aos montes em cada uma das gavetas estreitas da mapoteca, via agruparem-se coleções de texturas e figurinhas e somarem-se, à pouca espessura das colagens, as muitas camadas de muitas pinturas de antes. E o discurso é feito das mesmas frases curtas e bem humoradas, palavras descompromissadas como as que usa para apelidar suas pinturas. Os nomes cotidianos das coisas, dos bichos, a mosca, a barriga. Seria outra pintura se se chamasse ventre. Os papéis da Leda, que agora se espalham enfileirados, pelas paredes do Paço, não se pretendem nada mais. Não querem ser pinturas ou projetos de pinturas, proposições reveladoras ou questionamentos categóricos, nem ruptura nem ineditismo. São, antes (como as pinturas), construções resultantes de um gosto colecionista e combinatório, de uma atitude contínua de superposição e de reiteração. Como afirmações sedimentares. 

* Leda Catunda foi  artista convidada para a Temporada Projetos 1999
Governo do Estado de SP