Visitação
18/09/2018 a 04/11/2018
—VISÃO PERIFÃRICA—, de MaÃra Dietrich, reúne três obras: a peça sonora que dá nome à mostra, feita de cinco falantes sincronizados; —papelzinho—, uma projeção com imagens de processos de trabalhos realizados de 2008 a 2018; e —Ptit Poema—, que são anotações feitas sobre o espaço
Christine Mello
Abaixo, a entrevista de MaÃra Dietrich a Christine Mello sobre a mostra “VISÃO PERIFÃRICA”.
Quando imergimos na exposição “VISÃO PERIFÃRICA”, de MaÃra Dietrich, sustentamos algo, a princÃpio, insustentável: a coexistência de espaços simultâneos por meio de uma certa —dispersão aguçada—. Como pequenos gestos se constituem quando submetidos a forças insustentáveis? A presente pergunta pode nos ajudar a produzir relações diante de uma experiência como esta, que se organiza nas tensões e tessituras do indeterminado. A instalação “VISÃO PERIFÃRICA” acolhe, desse modo, procedimentos ambÃguos como o de explorar algo que não se está procurando ou a edição de cenas sutis, efêmeras, imaginárias. Para tanto, MaÃra Dietrich permeia o espaço com um tom pessoal, intimista, propÃcio ao encontro com o outro. Visão Periférica é uma peça de áudio, uma mostra de slides, uma reunião de papeizinhos e pequenos poemas. Apresentados sob a qualidade de rascunho, articulam a presença do visitante em estados perceptivos como o de estar —fora do foco da visão—. Busca oferecer, com isso, a sensação de se estar, de certa forma, descentralizado e vulnerável. Para saber mais sobre a noção de visão periférica em MaÃra Dietrich, conversei com a artista.
MaÃra Dietrich: Lembro de ter escrito sobre esse ter- mo no meu trabalho de conclusão de curso em 2011, é um livro que chama —Mais ou menos cinco meses—, aonde decidi que meu trabalho seria sobre o tempo que eu tinha até a data de entrega dele. Então, ele foi um trabalho oficialmente sem um tema e nele busquei tratar da passagem do tempo. A única certeza que eu tinha é que queria que ele comprimisse tempo dentro dele. Que pudesse ser sobre coisas que eu observava, coisas que eu ouvia, desenhos, viagens, como um aglomerado, um catalisador de pequenas coisas, e que pudessem explicar algum tipo de abordagem sobre a vida cotidiana também.
Eu comecei a pensar na visão periférica como esse fenômeno de percepção que acontece fora do foco da visão: tudo que você vê, mas, ao mesmo tempo, não está olhando, que implica uma postura ambÃgua em relação a quem está percebendo quem, quem está vendo e quem está sendo visto. Mas eu acho que a chave da visão periférica, como metodologia de trabalho, é, principalmente, a simultaneidade. Estou ouvindo uma coisa, estou vendo uma coisa e, ao mesmo tempo, estou ouvindo o que alguém comenta daquilo. Então, a forma como eu trabalho o áudio no espaço sugere uma negociação desses assuntos, sugere formas desses textos, palavras e sons se construÃrem em relação uns aos outros. Diferente do que seria o foco onde enfileiramos sentido ao ver uma coisa e depois outra e depois outra. Visão Periférica é um termo pelo qual eu tenho muito carinho, por ter encontrado nele uma chave, uma metodologia airada do meu trabalho.