O sentido de realização desta pequena mostra provém de um fulminante reencontro de ideias cruzadas e estéticas dispersas.
Nos últimos tempos, por diversos caminhos, conceitos percebidos se mantiveram afastados do meu entorno devido à s circunstâncias da vida cotidiana. E no haver me escapado em desconhecida jornada, retornam por agora, tornam-se realmente presentes com essa exibição de formato mÃnimo-compacto e inspirada numa escalada da intimidade. Aparatos óticos, a exposição-projeção é uma resposta espontânea em meio as minhas próprias notas práticas, do que somente poderia ser chamado aqui e agora de —inspiração—. Algo que neste átimo é explicado apenas com os recursos de um especÃfico glossário posto justo em frente à mesa de estudos. A exposição parte rumo à s noções de aparato tal qual um simulador de pensamentos; que o faz funcionar como um jogo, ao combinar novos sÃmbolos ou uma atividade própria, mas sem propósito, conceito chave aplicado pelo filósofo de mÃdia Vilém Flusser (1920-1991) em sua Filosofia da Caixa Preta (Ensaios para uma futura filosofia da fotografia, Editora Hucitec, São Paulo, 1985).
Este fragmento de um poema de iniciação do artista Lázló Moholy-Nagy (1895- 1946), salvo por completo de ser visto como epÃgrafe neste texto,
I swam in the Danube this afternoon
And I forgot all about you.
Longing for the old ecstasy light.
The waves rushed against each other
And my paper heart filled with wonder.
I was gazing at Buda.
How beautiful was Buda this afternoon,
Under a cover of light
(Moholy-Nagy, Experiment In Totality, Sibyl Moholy Nagy, Harper & Brothers NYC, with an introduction by Walter Gropius, 1950)
representa fortemente alguns dos ideais artÃsticos do conjunto de trabalhos reunidos dentro desta pequena sala quadrada, a que serve aberta por cima e sem paredes ou porta de lugar para a mostra. As forças múltiplas de espaço, o tempo mecânico, a luz/escuridão e o movimento do contato com o corpo em relação ao aparato, baseadas nas dimensões do mundo (in)visÃvel, conduzem o olhar do visitante por entre a seleção de peças. Os pequenos mecanismos em exibição sugerem um entendimento equivalente a obtenção de uma licença pessoal e intransferÃvel: a de se estar cercado de aparelhos ativo sem balanço e operação, e também sucede o raro contrário; o de se poder observar aparelhos em pleno funcionamento rodeados de pessoas em desequilÃbrio estático.
Marcio Harum
Kassel, maio de 2012