Júlia Ayerbe: Os
cânones ocultam os processos. Optamos por não discutir curadoria, de que já se
fala muito. Mas há regras e valores em todas as práticas institucionais. Um
exemplo: nos catálogos do MAM de São Paulo não se pode hifenizar o nome das
pessoas. O designer pode fazer o projeto que for, mas a isso ele vai ter que
atender.
Thiago
Carrapatoso: Eu
ainda fico deslumbrado com a divulgação das fichas técnicas. O que aquelas
informações dizem para o espectador quando ele não está diante da obra? Podem
conter dimensão, técnica, coleção, data, mas o que conseguem passar? No fim,
nada dizem, mas é institucionalizada a importância da ficha técnica.
Bruno Mendonça: São posturas né?! Um design pode ser experimental demais e se
tornar disfuncional? Uma bienal consegue ter uma expografia de artistas e não
de arquitetos? Até que ponto uma instituição pode confundir um pouco esses
papéis?
As normas
e os cânones caracterizam os circuitos de arte em todo o mundo, mas que
especificidades podemos considerar no Brasil?
Júlia Ayerbe: Uma
característica local é que os projetos são confundidos com as pessoas que os
gerem. Desmoronam se elas não estiverem lá. É triste, mas acontece. Outra coisa
são regras pouco claras. As normas existem, mas são invisíveis e você só as
descobre trabalhando.
Thiago Hersan: Não sei
se por um dado cultural ou por falta de recursos, eu sinto que aqui no Brasil
as coisas estão um pouco menos formatadas, o que gera uma abertura e uma
disponibilidade para a conversa. Aqui eu posso chegar num lugar e propor alguma
coisa.
Thiago
Carrapatoso: Essa
abertura também pode ser problemática, porque se criam instituições sem fins
muito bem definidos. Onde está o ethos delas no dia a dia? Parece que as
instituições precisam ser "Frankensteins" de si próprias para
encontrar uma forma de sobrevivência em qualquer situação econômica.
Um dos
temas propostos é a virtualidade. Como querem discuti-lo?
Thiago
Hersan: As
instituições eram espaços físicos onde você ia acessar coisas. Hoje, se elas
não ocuparem o espaço virtual, empresas vão ocupar. Já está acontecendo. O Google
está digitalizando obras de arte. Mas isso tudo tem um custo. As instituições
precisam começar a se relacionar melhor com seus sites e outras ferramentas que
completem a experiência presencial.
Thiago
Carrapatoso: Pensando
nisso, vamos criar uma rede local, que só poderá ser acessada dentro do museu.
Queremos entender como essa situação pode ser experimentada.
O formato
de exposição continua sendo o principal medidor da produção em artes. O
Laboratório Gráfico Desviante concentra grande parte dos seus esforços em
promover debates e vivenciar um processo de trabalho, mas ainda assim ocupa o
espaço da sala térrea do MIS. Qual o papel da exposição no projeto?
Laura Daviña: Não
precisamos de uma sala expositiva, mas um espaço é importante para visibilizar
nossos exercícios e questionamentos no Laboratório.
Bruno Mendonça: Não
queremos fetichizar essa presença, mas precisamos de um ponto de encontro. As
coisas vão estar borbulhando naquele espaço e é importante estar em contato com
ele.
Júlia Ayerbe: Também
é importante dizer que, de acordo com o edital, o espaço dos artistas da
Temporada de Projetos é a sala de exposição. Poderíamos estar no museu de outro
jeito, mas nos cabia ocupar este espaço expositivo. Aliás, metade dele, pois
será dividido com outra artista.
Pra quem
é o projeto? Quem são os públicos em potencial?
Bruno
Mendonça: Acho
que esse é um tipo de projeto para criar dúvidas dentro do circuito. Abre-se
uma portinha da autocrítica. Como estamos produzindo, quem são os produtores?
Júlia
Ayerbe: É
importante pensar estrategicamente. A partir de uma discussão de uma situação
concreta, você abre diversas outras. A concretude de como as coisas funcionam,
em escala pequena, oferece situações para analisarmos problemas de escala maior
no meio da arte e na sociedade.